quarta-feira, março 09, 2005

Blitzkrieg-VIII

Sobre a guerra aérea, para quem tenha acompanhado as mais recentes pesquisas não há nada de novo no livro. Durante anos criticou-se Hitler por não ter construído bombardeiros quadrimotores que lhe permitissem bombardear as fábricas inglesas e derrota-la. Ora isso é ignorar vários factores: em 1940 a Alemanha não tinha ferro, tempo ou capacidade industrial de construir bombardeiros médios para ataque de forças inimigas e simultaneamente os grandes bombardeiros quadrimotores. E depois, como conseguir que eles passassem pelas defesas inglesas (os caças alemães não tinham um alcance considerável para lhes servir de protecção)? Aliás, toda a batalha de Inglaterra é vista como um desperdício de recursos: se a força aérea alemã não conseguiu impedir Dunkerque, como conquistar um país? E o blitz só serviu para fortalecer o ânimo da população sem fazer um beliscão à indústria inglesa.
Curiosamente, quando os papéis se inverteram, os britânicos nada aprenderam. Lançaram vagas de bombardeiros utilizando a princípio como critério de sucesso num objectivo, acertar num raio de 8Km (é como se alguém quisesse acertar no Porto na estação de S. Bento, deixasse cair as bombas na Boavista e dissesse que tinha cumprido a missão). Churchill quando soube, ficou furioso, e exigiu critérios mais rigorosos. Construíram-se novos bombardeiros (os Lancaster), receberam-se outros dos americanos (B-17), e lá se começou a acertar. A partir de 1943 os bombardeamentos intensificaram-se. Os objectivos prioritários eram as fábricas e instalações militares. Mas embora as bombas caíssem, a produção alemã (graças às medidas de Speer), aumentou. Existe uma história curiosa: um complexo industrial que produzia uns rolamentos fundamentais para os tanques foi atacado por mais de um milhar de bombardeiros; cerca de 10% da produção foi afectada. Speer, garantiu depois da guerra, que se os ataques se tivessem sucedido sem paragem, a produção alemã de tanques seria paralisada. O que ele ignorava, é que esse ataque cuidadosamente planeado com as tripulações mais experientes, viu um terço dos aviões ser abatidos, mais os que ficaram maltratados. Mais alguns ataques assim, e deixaria de existir força de bombardeiros aliados funcional, antes mesmo de se paralisar as fábricas (as perdas dos bombardeiros durante a guerra podem-se considerar terríveis: mais de 21000 aviões abatidos). Decidiu-se utilizar simultaneamente uma estratégia de terror e bombardear as populações civis para minar a moral (o único resultado foi dar trabalho a multidões de portugueses e turcos no pós-guerra), com resultado nulo. Depois da guerra, observadores consideraram que dado que a produção alemã sofreu um colapso em finais de 1944, isto devia-se aos bombardeamentos, ignorando talvez, que a perda de territórios que produziam as matérias-primas essenciais ao esforço de guerra (petróleo, álcool, ferro, níquel, etc) podiam ser uma excelente explicação alternativa. Isto tudo, porque os estados-maiores da aviação agarravam-se às teorias que tinham aprendido de que os ataques vindos do ar seriam imparáveis e destruiriam completamente as forças vivas do inimigo.

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