Este é o mais antigo texto em língua italiana que sobreviveu (séc. IX). É bastante semelhante ao latim (mais do que o texto francês que já apresentei anteriormente; no entanto já não usa as regras gramaticais que o definiria como tal. É um poema sobre a vida no campo.
Se pareba boues
alba pratalia araba
& albo uersorio teneba
& negro semen seminaba.
quinta-feira, dezembro 29, 2005
quarta-feira, dezembro 28, 2005
A vida de Brian
Neste natal tive de ver vários filmes, a maioria para esquecer, mas ofereceram-me um que compensa todos os outros: “A vida de Brian”.
Não sendo um filme histórico propriamente dito, é uma sátira bem concebida; já tinha visto o filme há uns anos atrás (sem legendas o que dificultava a compreensão de muitas piadas).
Brian é um jovem que nasce na mesma altura que Jesus Cristo em Israel e leva uma vida paralela (mas não similar). Leva uma vida banal (assistindo a sermões e apedrejamentos), até que entra num grupo anti-romano (creio que é o Judean People's Front, mas não tenho a certeza), que passam o tempo a reunir-se para discutir a opressão romana mas que consideram o seu maior inimigo os outros movimentos. Sem querer torna-se num profeta seguido e adulado por uma multidão (quando ele lhes diz que devem pensar por eles próprios eles repetem em coro que devem pensar por si próprios; formam-se também 2 movimentos rivais, os seguidores da cabaça e os da sandália); acaba por ser preso e crucificado (com os outros crucificados a cantar). As piadas variam entre uma feroz critica ao fanatismo religioso e grupos políticos e outras mais inofensivas, embora não sejam simples (romanes eunt domus). Pareceu-me curioso como muitas ideias apresentadas como nonsense iriam ter outro desenvolvimento.
terça-feira, dezembro 27, 2005
domingo, dezembro 25, 2005
Mapa de Piri Reis
Aqui está uma prenda natalícia:
Considerado por muitos como o primeiro mapa com costa do continente americano.
Mapa
Considerado por muitos como o primeiro mapa com costa do continente americano.
Mapa
quarta-feira, dezembro 21, 2005
Barry Lyndon
Um excelente filme (na minha opinião) de Stanley Kubrick. Embora não retrate um acontecimento real, descreve muito bem a segunda metade do séc. XVIII.
Barry Lyndon é um jovem irlandês do que poderíamos chamar de classe média que depois de um escândalo de amores, é obrigado a fugir. Leva uma vida aventurosa na Europa sendo soldado de Frederico o grande, espião, e jogador. Torna-se amante de uma mulher rica inglesa e casa com ela depois de ela enviuvar. Leva uma vida de grande aristocrata (festas) e efectua alguns investimentos com maus resultados. Traindo a mulher e dando-se mal com o enteado acaba por ficar mutilado por este num duelo, tendo de sair de casa e voltando a uma semi-pobreza.
A recriação da época a nível de roupas, decoração e costumes é primorosamente feita. A banda sonora embora não seja da época (há de tudo, desde Handel aos Chieftains) é adequada aos momentos do filme (sobretudo a sarabanda de Handel). O filme tem um ritmo lento e muito detalhado (a cena de sedução de Barry na mesa de jogo à que iria ser sua esposa ao som de Schubert é inesquecível).
segunda-feira, dezembro 19, 2005
Descodificado o ADN do Mamute
http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/4535190.stm
De acordo com a notícia, a sequência das 5 mil letras que compõem o ADN mitocondrial do Mamute foram descodificados, permitindo descobrir , por exemplo, que teria um parentesco mais próximo ao do elefante asiático, do que ao elefante africano.
Este ADN esteve preseservado nas camadas de Permafrost, tal como a de muitos outros animais do Plistoceno, sendo a primeira vez que se descodifica o ADN de um animal dessa época (o primeiro foi a Moa, uma ave que se extinguiu à cerca de 500 anos.
A novidade desta descoberta prende-se também com a técnica utilizada, que permite utilizar mesmo pequenos vestígios de ossos fossilizados. Foram estudados 46 partes de ADN Mitocondrial, que foram comparados e organizados ordenadamente.
O ADN Mitocondrial permite, entre outras coisas, estudar os parentescos evolucionários entre diferentes espécies.
quinta-feira, dezembro 15, 2005
quarta-feira, dezembro 14, 2005
terça-feira, dezembro 13, 2005
Druidas
Depois de falar de um óptimo filme, vou falar de um péssimo.
“Os druidas”, relatam o conflito de César com os gauleses, sendo Vercingetorix o herói. A história é relativamente fiel aos acontecimentos (com algumas aventuras pelo meio para entreter). O problema é que Vercingetorix é representado por Christopher Lambert (o que fez o filme “Os imortais”), tendo poucas capacidades de representação; nem a melhor representação dos outros actores (nomeadamente Max Von Sidow) o salvam. O filme apesar de tentar ser profundo e dramático não o consegue, e como filme de aventuras também falha. O armamento romano é posterior (mas imagino que tivessem aproveitado os materiais de outros filmes por razões orçamentais) e nem sequer as batalhas são minimamente credíveis (poucos actores e má coreografia: existe um plano filmado de cima que supostamente representa o ponto onde os soldados passam, mas percebe-se que são sempre os mesmos 6 ou 7). Enquanto que o gladiador atropelava completamente a história, inventando alegremente o que queria mas era um razoável filme de aventura, este é apenas aborrecido. É certo que o filme resiste à tentação muito comum de apresentar bons e maus: cada lado tenta defender os seus interesses; também comete muitos atropelos à história. Mas não compensa a má representação e o aborrecimento.
segunda-feira, dezembro 12, 2005
Longevidade
Imagem do imperador Meiji
Quando no séc. XII, os samurais apoderaram-se das rédeas do poder no Japão, os Kuge (aristocracia palaciana aparentada com o imperador), ficaram reduzidos a um papel simbólico, preenchendo os cargos da corte que eram meramente honoríficos. Mas sobreviveram. A velha família fujiwara (que remontava a um período anterior ao séc. VII) com os seus vários ramos (Ichijo, Kujo, Nijo, Konoe and Takatsukasa), assim como outras famílias (Daigo, Hamuro, etc) mantiveram-se como nobres à volta do imperador na capital Quioto, e guardando o que restava dos cargos e terras. No séc. XVI, saiu nova legislação que acabou por os arruinar: todas as terras de uma província pertenciam ao daymio (senhor da província) ou a seus vassalos não se podendo ter terras espartilhadas. A partir do séc. XVII os shoguns atribuíram um rendimento ao imperador equivalente à mais pequena província, o que daria para sustentar a sua família, palácio e alguns servidores mais próximos. Os restante kuge ou ainda tinham terras nos arredores de Quioto, ou tinham de arranjar meio de subsistência. Através do ensino das artes aos samurais, e servindo de mestres de etiqueta e cerimónia, lá foram sobrevivendo até ao séc. XIX (ainda as mesmas famílias do séc. VII, a poligamia assim como um sistema flexível de sucessão com primos tem essas vantagens). Quando se dá a revolução Meiji, parte da nobreza samurai que se recusou a aceitar as mudanças foi destruída. Ora, o novo imperador decidiu criar uma nova aristocracia (Kazoku), e fundiu os kuge com os samurai, existindo uma hierarquia de 5 graus desde príncipes a barões (1884). Por mera coincidência, o grau mais elevado da hierarquia foi atribuído unicamente aos Fujiwara e parentes imperiais, com uma excepção: o último shogun Tokugawa que abdicara do poder pôde formar o seu próprio ramo principesco; todos os outros Tokugawa e daymios ficaram em escalões inferiores da nobreza (quando décadas antes dominavam o país), ainda por cima equiparados às velhas famílias kuge que há um milénio que não tinham qualquer influência real e que se vingavam agora… Toda esta nobreza representada na câmara dos pares, iria reconverter-se em banqueiros e industriais. Mas enquanto que os descendentes dos Kuge se dedicariam mais à política (grande parte dos ministros e primeiros ministros eram príncipes ou marqueses), parte dos descendentes dos antigos samurais iria para o exército. Na década de 20 e 30, com as dificuldades do país, os militares começaram novamente a exigir uma política mais agressiva e a apoderar-se das rédeas do poder em detrimento dos civis. Com a derrota na segunda guerra mundial, os títulos nobiliárquicos foram abolidos. Mas pouco importa: os Fujiwara, Tokugawa e toda as velhas nobrezas do país ainda são as famílias que importam na política e na economia. De facto, cada vez que sentiam um período de uma mudança, tomavam em mãos o processo em vez de esperar que outros o fizessem, de forma a poderem adaptar-se e manter-se como grupo dominante.
sexta-feira, dezembro 09, 2005
As revoltas francesa-V
O maio de 68 como outras revoltas surgiu aparentemente de pequenos factores. Os estudantes da Universidade de Paris que estavam em conflito latente com a universidade e, ao verem a ameaça de expulsão de colegas seus, juntaram-se em protesto na sorbonne (6 de Maio); as autoridades reagiram mandando prender alunos e começaram motins, terminando com centenas de prisões. Nos dias seguintes mais alunos foram à universidade em protesto (que entretanto fora encerrada) e deram-se mais confrontos (e prisões); a partir do dia 6 as coisas pioraram, na medida em que alunos do liceu, professores, trabalhadores apoiaram os estudantes da universidade, e continuaram os confrontos entre a polícia e os manifestantes mas agora pela cidade. No dia 13 os próprios sindicatos vieram em apoio dos estudantes (apesar das renitências do PC francês). Apesar de cedências do governo (libertação dos presos, negociação de reivindicações), a partir daí as coisas espalharam-se pelo país, deixando de ser uma mera coisa de estudantes, com trabalhadores a ocupar fábricas e greves gerais; as exigências feitas pelos sindicatos (aumentos de salários e condições de vida), tornavam-se muito moderadas comparadas com as atitudes dos trabalhadores. Curiosamente as coisas em Junho acalmaram: de Gaulle que recusara demitir-se, marcou eleições para o parlamento, conseguiu que os trabalhadores voltassem a trabalhar e a polícia ocupasse a sorbonne; conseguindo um resultado confortável nas eleições, o assunto ficou para trás.
segunda-feira, dezembro 05, 2005
Ran
Decidi apresentar neste blog alguns filmes históricos ou vagamente históricos. E o primeiro vai ser um dos que considero um dos melhores do realizador Akira Kurosawa.
O contexto do filme passa-se algures na segunda metade do séc. XVI (uma vez que os portugueses introduziram as armas de fogo em 1542 e demorou-se algum tempo a divulga-las). A estória é vagamente baseada na do rei Lear: um velho senhor (Hidetora) abdica em favor dos filhos (eram 3) esperando que eles se dêem bem, o terceiro discute com o pai dizendo que não deve fazer isso que o entendimento entre eles não durará e o pai exila-o; claro que rapidamente os dois irmãos se coligam contra o pai e assiste-se a batalhas excelentes do ponto de vista visual (nomeadamente o massacre do seu séquito e a destruição do castelo). Hidetora acaba por passar por um período de loucura e deambula acompanhado por dois servidores, encontrando antigas vítimas suas e reflectindo sobre o vazio em que se encontra. Quando percebe (e reconhece) que a razão estava do lado do seu filho mais velho, junta-se a ele, vendo-o ser assassinado às ordens de outro filho e morre de desgosto.
O filme sem se basear numa história verídica, acaba por ser uma excelente amostra do que foi o séc. XVI japonês, com as suas traições e combates. Numa determinada cena, Hidetora pede aos seus filhos para tentarem partir 3 flechas juntas e nenhum o consegue, dando como lição de moral de que se ficassem juntos seriam invencíveis, mas o filho mais novo replica-lhe que o mundo real não se compadece com essas estórias e parte-lhe as flechas sozinhas; depois de tanto sangue que ele derramou, tem de manter o poder, se abdicar será destruído por todo o ódio que semeou (a parábola das flechas foi efectivamente contada por um daimyo do séc. XVI e admira-me ninguém ter feito uma mensagem das que se reencaminham nada na Internet com isso). Uma das personagens que ajudaria à sua destruição foi a mulher de um dos seus filhos que fora casada à força depois de ver o seu clã aniquilado pelo velho Hidetora.
Por curiosidade: não conseguindo Kurosawa financiamentos para os seus filmes no Japão, foram admiradores seus no ocidente (Copola, George Lucas, Steven Spielberg) que lhe pagaram os últimos filmes, nomeadamente Ran.
quarta-feira, novembro 30, 2005
As revoltas francesas-IV
A comuna de Paris foi mais um episódio sangrento. Em 1870, o imperador Napoleão III declarara guerra à Prússia (que formaria o núcleo da Alemanha); a guerra foi um desastre para a França: os seus generais eram de forma geral incompetentes e invejosos, o equipamento e treino também inferiores. Napoleão III acabaria por ter de abdicar, e um governo auto-proclamado (do que seria a III república) iria receber as condições de paz. Parte da população de Paris que fora armada para uma eventual invasão (formando a guarda nacional), e que vira as suas condições de vida degradarem-se sensivelmente no período da guerra, começou a formar comités. O governo ordenou a desmilitarização das milícias pelo exército em Paris, mas este liquidou os oficias fieis ao governo e juntou-se aos agora revoltosos. O governo fugiu e deu ordem de evacuação a todos os que seguissem a sua autoridade. O comité da guarda nacional demitiu-se e nas eleições marcadas saiu um governo municipal (Março de 1871) chamado comuna (tinha nos seus membros desde operários a jornalistas, com tendências tão variadas como anarquistas e republicanos), que dava imenso poder aos comités eleitos localmente.
O novo governo de Paris (pois o seu poder limitou-se à capital) era bastante moderado quando comparado com os governantes da revolução francesa: a propriedade privada não foi tocada (nem confiscações nem nacionalizações), não foram feitas perseguições políticas (embora se planeasse uma rigorosa separação entre Igreja e estado), concentrando-se as mudanças em reformas sociais e laborais (fim de horários laborais nocturnos, devolução das ferramentas aos trabalhadores que tinham sido requisitadas para o esforço de guerra). O governo da III república entretanto conseguiu formar um novo exército com o apoio dos prussianos e passou à ofensiva, conquistando bairro a bairro a cidade. Calcula-se que tinham sido mortos umas 30.000 pessoas, mais um número indeterminado de fuzilados (e depois os presos e exilados).
terça-feira, novembro 29, 2005
quinta-feira, novembro 24, 2005
As revoltas francesas-III
O assunto é tão complexo e tem tantas peripécias, que vou ter de fazer um resumo muito simplificado do que sucedeu.
A França estava na segunda metade do séc. XVIII com uma crise financeira; várias tentativas foram levadas a cabo para as resolver. A nobreza e clero que eram isentas de impostos, defendiam-se que só a reunião dos estado gerais daria a legalidade ao rei de os obrigar a ser contribuintes. Foram marcados os estados (1789), mas dado que a votação era feita por grupo, os privilegiados tinham dois terços dos votos o que inviabilizava qualquer mudança; ora o grupo do 3º estado declarou-se representante de 98% da população e assembleia nacional. O rei pressionado pretendeu aí fazer marcha atrás mas a população de Paris reagiu e tomou a Bastilha (14 de Julho), considerada o símbolo do poder absoluto, uma vez que funcionara como prisão dos adversários do rei (nessa altura já não era assim). O rei teve de ceder, reconciliando-se aparentemente com a assembleia nacional; nos campos fez-se o saque de muitos castelos levando à fuga da aristocracia para o estrangeiro contando a sua versão do que sucedera. Em Agosto, são abolidos os privilégios e títulos de nobreza, levando à igualdade política; no ano seguinte seria a vez do clero perder os seus privilégios (pensões do governo, propriedades, taxas especiais, etc), antes de começar a ser efectivamente perseguida. No auge do terror chegou-se mesmo a fundar um culto de uma suprema divindade símbolo da razão; ao mesmo tempo que os padres deveriam ser tornados simples funcionários públicos recusando-se a aceitar Roma; os que se recusassem seriam destituídos. Tudo isso acabou numa concordata feita por Napoleão, que normalizaria as relações com Roma.
Voltando à situação política, a assembleia era constituída por todo o espectro imaginável, desde defensores do absolutismo, até defensores do poder absoluto do povo (Robespierre); a maioria era ainda moderada (Mirabeau). Criaram-se grupos como os girondinos (defensores da redução do rei a figura decorativa ou mesmo a república, representando a burguesia, nesta altura eram radicais), os jacobinos (muito mais extremistas) e uma profusão de grupos menores.
Marcaram-se eleições e foi-se elaborando uma constituição. A nova constituição espojava o rei dos seus poderes absolutos e acabava de liquidar o que restava do antigo regime (abolindo todos os privilégios pessoas ou colectividades, taxas internas, considerando todos os cidadãos iguais, etc). A morte de Mirabeau que sempre pusera um freio aos grupos radicais, iria complicar a situação, pois entretanto, o rei que não aceitara de boa mente o papel que tivera, apoiou as tentativas de sedição dos grupos conservadores e tentou mesmo fugir (1791); capturado, viu a assembleia (que não lhe era completamente hostil) tentar entrar em entendimento com ele. A assembleia legislativa que lhe sucedeu, teve de enfrentar tumultos internos (à medida que os grupos radicais ganhavam poder) e a guerra com as monarquias absolutas. A assembleia foi-se despojando dos seus membros até que se formou a convenção. Esta para fazer face às várias oposições instituiu o que se chamou o terror: os adversários (e mais tarde simples suspeitos) deveriam julgados (no final já nem isso, eram apenas condenados) e executados. Estavam incluídos no princípio os aristocratas e padres refractários. A Convenção acabaria por mandar guilhotinar Luís XVI e a Maria Antonieta (1793). Os jacobinos de Robespierre (que criou o comité de salvação nacional, um órgão todo poderoso para condenar potenciais traidores) acabariam por eliminar as facções moderadas dentro da convenção por traição assim como os seus adversários pessoais (neste momento, até os girondinos eram considerados moderados e liquidados por oposição), quer os extremistas revolucionários por excesso de zelo e mesmo jacobinos “moderados”. Até um revolucionário como Danton que fora um dos criadores do terror, acabou guilhotinado por mostrar falta de zelo revolucionários. A revolução devorava os seus filhos. Formou-se uma reacção que acabou por levar à destituição de Robespierre e partidários e sua execução (1794). Uma nova constituição e um órgão que controlaria o poder (o directório) levariam a uma acalmia da situação (sem negar qualquer das conquistas sociais da revolução), até que o descontentamento devido a problemas económicos e políticos levariam ao advento de Napoleão.
Do ponto de vista ideológico, a maioria dos revolucionários se proclamava adeptos das doutrinas de figuras como Rousseau e Voltaire, a sua forma de as aplicar iria varia de acordo com as circunstâncias e com o tempo; o modelo inglês nunca foi bem visto por uma certa anglofobia por um lado e por outro pelo orgulho francês de querer criar algo de diferente, experimentado soluções novas (mesmo que pouco práticas).
As imensas dificuldades quer internas (revolta de departamentos, oposição sistemática de certos grupos), quer externas (as monarquias absolutas que decidiram colocar um travão à revolução), aliadas aos problemas económicos (que nunca mais se resolviam), levaram à radicalização e uma constante fuga em frente.
terça-feira, novembro 22, 2005
Flautista de Hamelin
Ando a ler "A World Lit Only By Fire", de William Manchester. A obra não prima pelo rigor científico: o autor era perito em história contemporânea (Churchill, nomeadamente) e só escreveu este livro sobre o fim da Idade Média e o Renascimento por mero acaso. Contudo, lê-se muito agradavelmente, estando muito bem escrito e cheio de episódios pitorescos.
Contudo, alguns destes episódios suscitam-me dúvidas. Por exemplo, Manchester afirma que a história do Flautista de Hamelin é baseada num caso verídico, de um psicopata e pedófilo que atrairia as crianças para as violar e matar. O relato não especifica as fontes (uma grande lacuna do livro), pelo que desconheço a origem da história. Após alguma pesquisa descobri que, de facto, haverá algum episódio real que terá inspirado a história, mas julgo não haver dados suficientes para se poderem fazer este tipo de afirmações.
Algum sabe mais alguma coisa sobre este caso?
Contudo, alguns destes episódios suscitam-me dúvidas. Por exemplo, Manchester afirma que a história do Flautista de Hamelin é baseada num caso verídico, de um psicopata e pedófilo que atrairia as crianças para as violar e matar. O relato não especifica as fontes (uma grande lacuna do livro), pelo que desconheço a origem da história. Após alguma pesquisa descobri que, de facto, haverá algum episódio real que terá inspirado a história, mas julgo não haver dados suficientes para se poderem fazer este tipo de afirmações.
Algum sabe mais alguma coisa sobre este caso?
wikipedia
Saiu hoje um texto interessante na wikipediasobre os Ta-Yuan.
The Ta-Yuan were a people of Ferghana in Central Asia, described in the Chinese Chronicles and in the Chinese Former Han History, following the travels of Zhang Qian in 130 BCE, and the numerous embassies that followed him into Central Asia thereafter. These Chinese accounts describe the Ta-Yuan as urbanized dwellers with Indo-European features, living in walled cities and having "customs identical to those of the Greco-Bactrians", a Hellenistic kingdom that was ruling Bactria at that time in today’s northern Afghanistan. The Ta-Yuan are also described as manufacturers and great lovers of wine. The Ta-Yuan were probably the descendants of the Greek colonies that were established by Alexander the Great in Ferghana in 329 BCE, and prospered within the Hellenistic realm of the Seleucids and Greco-Bactrians, until they were isolated by the migrations of the Yueh-Chih around 160 BCE. It has also been suggested that the name “Yuan” was simply a transliteration of the words “Yona”, or “Yavana”, used throughout antiquity in Asia to designate Greeks (“Ionians”), so that Ta-Yuan (lit. “Great Yuan”) would mean "Great Ionians".
The Ta-Yuan were a people of Ferghana in Central Asia, described in the Chinese Chronicles and in the Chinese Former Han History, following the travels of Zhang Qian in 130 BCE, and the numerous embassies that followed him into Central Asia thereafter. These Chinese accounts describe the Ta-Yuan as urbanized dwellers with Indo-European features, living in walled cities and having "customs identical to those of the Greco-Bactrians", a Hellenistic kingdom that was ruling Bactria at that time in today’s northern Afghanistan. The Ta-Yuan are also described as manufacturers and great lovers of wine. The Ta-Yuan were probably the descendants of the Greek colonies that were established by Alexander the Great in Ferghana in 329 BCE, and prospered within the Hellenistic realm of the Seleucids and Greco-Bactrians, until they were isolated by the migrations of the Yueh-Chih around 160 BCE. It has also been suggested that the name “Yuan” was simply a transliteration of the words “Yona”, or “Yavana”, used throughout antiquity in Asia to designate Greeks (“Ionians”), so that Ta-Yuan (lit. “Great Yuan”) would mean "Great Ionians".
terça-feira, novembro 15, 2005
Textos primitivos
O texto abaixo é o mais antigo texto de língua francesa, do séc.IX; Luís o germânico dirigiu-se em língua "romana" (ainda não existia o termo francesa), às tropas do seu irmão, Carlos o Calvo (eram os netos de Carlos Magno). Embora seja compreensível, parece mais latim mal escrito do que propriamente francês; mas conforme se ler com sotaque "latino" ou francês, o resultado será bastante diferente.
Pro deo amur et pro christian poblo et nostro commun salvament, d'ist di in avant, in quant deus savir et podir me dunat, si salvarai eo cist meon fradre Karlo et in aiudha et in cadhuna cosa, si cum om per dreit son fradra salvar dist, in o quid il mi altresi fazet, et ab Ludher nul plaid nunquam prindrai, qui meon vol cist meon fradre Karle in damno sit.
Pro deo amur et pro christian poblo et nostro commun salvament, d'ist di in avant, in quant deus savir et podir me dunat, si salvarai eo cist meon fradre Karlo et in aiudha et in cadhuna cosa, si cum om per dreit son fradra salvar dist, in o quid il mi altresi fazet, et ab Ludher nul plaid nunquam prindrai, qui meon vol cist meon fradre Karle in damno sit.
segunda-feira, novembro 14, 2005
As revoltas francesas-II
A fronda
Outra revolta conhecida, foi a fronda (se bem que não fosse uma mas duas revoltas).
Em 1648 a França estava em guerra com a Espanha há alguns anos (a guerra dos 30 anos, que começara por outros países mas se tornara num braço-de-ferro entre Olivares e Richelieu). O cardeal Mazarino decidiu lançar um novo imposto para ser pago pelos oficias de justiça, dado que as finanças reais estavam mal e o povo não estava em condições de pagar novos impostos. O parlamento recusou-se a pagar e ainda propôs algumas reformas limitando o poder real; Mazarino mandou prender os líderes parlamentares. Depois de várias peripécias, Paris revoltou-se e a corte teve de fugir. A corte acabou por fazer algumas concessões e a situação resolveu-se.
Em 1650, é a vez da grande aristocracia se revoltar (incluíndo membros da família real). O motivo do desagrado, era o de ver um estrangeiro acumular tanto poder (e ainda por cima acusado de se ter tornado amante da rainha-mãe e provavelmente casou com ela), ficando a nobreza afastado das rédeas do poder. Revoltaram-se os comandantes de vários exércitos (Turrene, Condé), até então em luta contra a Espanha (por sorte, as tropas espanholas encarregues de ajudar os revoltosos foram detidos por camponeses que lutaram pelo seu país). Mazarino é obrigado a exilar-se, e as várias facções viram-se umas contra as outras, embora o esgotamento do país, levasse a alguma acalmia. No ano seguinte Mazarino volta com um exército e vários comandantes que se tinham aliado à causa real viraram-se contra os seus anteriores companheiros de revolta. Continuaram as batalhas até 1653, até que se chegou a um compromisso, em que todos se submetiam à autoridade real, e tudo continuava na mesma, com Mazarino no poder, mantendo-se a guerra com a Espanha até 1659, em que se estabelecia a França como a potência da época, tendo a Espanha perdido a guerra dos 30 anos. E Luís XIV estabelecia o poder absoluto da realeza, pronto a ser aceite por uma população cansada da anarquia.
sexta-feira, novembro 11, 2005
As revoltas francesas
Vou começar por uma das mais antigas e conhecidas: as Jacquerie.
Elas começaram no final da idade média em 1358. Estando a decorrer a guerra dos 100 anos, a nobreza que sofrera imensas perdas financeiras (derrotas, campos devastados, resgates a ser pago aos ingleses, a baixa de rendimento devido às mortes pela peste e fuga de camponeses), decidiu manter os seus rendimentos aumentando os impostos e criando novos. O resultado não se fez esperar: os camponeses que também tinham sido duramente afectados pela guerra, começaram a revoltar-se e a assaltar as residências dos nobres. Depois de alguns êxitos iniciais, a grande nobreza reagiu, e conseguiu numa série de vitórias esmagar as revoltas dos camponeses, mal armados e mal liderados. A principal crónica dessa época é a de Froissart: embora seja um defensor incontestável da nobreza e das suas virtudes (pode-se dizer que ele é o ideal de historiador de qualquer regime: cobre de elogios os governantes, critica asperamente os seus adversários, é parcial nas interpretações), faz apesar de tudo um relato relativamente fiel dos acontecimentos. Começa por fazer descrições terríveis das revoltas dos camponeses (o assalto à casa de um cavaleiro, o seu suplício a fogo lento, a violação colectiva da sua família), mas depois descreve os massacres dos camponeses
quinta-feira, novembro 10, 2005
França
Surpreende-me o espanto das pessoas com o que está a decorrer em França. Este foi sempre o país onde as pessoas recorreram à violência quando consideravam que tinham chegado a um ponto intolerável, quer fossem aristocratas (fronda), plebeus (a revolução francesa, 1848, 1871), estudantes (maio de 68) ou imigrantes (agora). E dos que mais procuram um salvador que os tire da anarquia (Napoleão I, III Petain e De Gaulle foram os bem sucedidos, houve outros mal sucedidos).
terça-feira, novembro 08, 2005
Inquisição
Uma amiga minha há uns anos atrás, fez um estudo sobre a inquisição de vila do conde, estudou a documentação da época (finais do séc. XVI) e contou-me alguns episódios curiosos, de que vou apresentar um; como isto me foi contado há uns anos atrás, não me lembro dos pormenores.
Numa aldeia nos arredores de vila do conde, corria o boato de que existia uma bruxa; feita a denúncia à inquisição, a senhora foi presa. Sendo interrogada (não me lembro se foi torturada, mas provavelmente sim), ela confessou que não era bruxa, que tendo alguém espalhado o boato, começou a ser visitada por pessoas que queriam que ela fizesse feitiços. Como ela era pobre e precisava de dinheiro, começou a fazer poções (de ervas inofensivas) e as pessoas pagavam contentes.
Para quem está habituado ao estereótipo da inquisição, a pena pode parecer surpreendente: foi condenada ao exílio por charlatanice. É que as penas dependiam bastante da formação dos inquisidores (os juristas eram muito mais cépticos do os teólogos para tudo o que se referisse a crimes religiosos), assim como o tipo de crime (fosse a acusação de apostasia para o judaismo, o processo teria decorrido de forma muito diferente).
Numa aldeia nos arredores de vila do conde, corria o boato de que existia uma bruxa; feita a denúncia à inquisição, a senhora foi presa. Sendo interrogada (não me lembro se foi torturada, mas provavelmente sim), ela confessou que não era bruxa, que tendo alguém espalhado o boato, começou a ser visitada por pessoas que queriam que ela fizesse feitiços. Como ela era pobre e precisava de dinheiro, começou a fazer poções (de ervas inofensivas) e as pessoas pagavam contentes.
Para quem está habituado ao estereótipo da inquisição, a pena pode parecer surpreendente: foi condenada ao exílio por charlatanice. É que as penas dependiam bastante da formação dos inquisidores (os juristas eram muito mais cépticos do os teólogos para tudo o que se referisse a crimes religiosos), assim como o tipo de crime (fosse a acusação de apostasia para o judaismo, o processo teria decorrido de forma muito diferente).
quarta-feira, novembro 02, 2005
Béria- VII
Para evitar um conflito aberto, os “notáveis” do regime evitaram hostilizar-se ostensivamente. Mas Béria possuía uma imensa vantagem: controlava os serviços de espionagem e a polícia política, para além de ter numerosos aliados. Béria, foi tentando assim ganhar terreno aos pouco.
Um das primeiras medidas que aplicou foi a libertação de prisioneiros que não fossem considerados um perigo para o estado (incluíam-se mulheres grávidas, mulheres com crianças, menores de 18 anos), ou seja mais de um milhão de pessoas. Também ordenou que fossem suavizadas as condições, acabando os maus-tratos arbitrários e as prisões indiscriminadas. Retirou uma série de atribuições do partido no estado, para reduzir a força do partido (controlado por Krustchev, enquanto ele tinha maior poder no aparelho governamental).
Suspendeu a construção de grande obras públicas que não tivessem vantagens óbvias dado os gastos, assim como o estabelecimento das “cidades camponesas” (desmontavam-se as pequenas aldeias para se juntar tudo em autenticas cidades agrícolas), uma vez que estavam a afectar a produção e provocavam a resistência das populações. Ordenou a substituição dos líderes das repúblicas soviéticas que eram russos ou pró-russos por outros nativos, assim como a utilização das línguas locais como línguas oficias da administração. Ordenou a reabilitação de vítimas de Estaline e denunciou a conjura dos médicos como um embuste (e mostrou-se desrespeitoso com a sua memória em discursos oficiais). Livrou-se de alguns adversários que tinham substituído apoiantes seus nos últimos tempos de Estaline (mandando-os prender ou fusilar- os velhos hábitos demoram tempo a morrer). Do ponto de vista externo, pediu aos satélites da URSS para se “moderarem” na construção do socialismo, evitando a expropriação de camponeses e pequenos lojistas o que desorganizaria a economia. Tentou-se mesmo uma normalização das relações com os E.U.A. e com o Vaticano (libertando-se na ucrânia os unionatas, católicos de rito ortodoxo, o que era um ataque directo a Krustchev que os tentara esmagar em prol dos ortodoxos). Mas na Alemanha de leste o apoio aos moderados, provocou uma sublevação da população contra o PC, o que levou ao envio de tanques para esmagar a sublevação. Ora, este caso seria a gota de água que levaria à queda de Béria (e também o seu desprezo por Krustchev que considerava um camponês sem subtileza e fácil de vencer). Tendo tomado numerosas decisões importantes apenas informando os seus colegas, gerara numerosos descontentamentos. E Krustchev aproveitou-se disso. Numa reunião de emergência com alguns membros do Presidium, convenceu-os que Béria estava a tentar apoderar-se do poder (o que não deveria ser grande surpresa) e que as suas medidas estavam a destruir a URSS; conseguiu convence-los a prende-lo (o que era ilegal, dado que o presidium não tinha poderes para mandar prender alguém, ainda menos quando faltava a maioria dos membros). Entre essa reunião e a prisão de Béria correram menos de 12 horas (foi só o tempo de conseguir o apoio de alguns militares como Jukov que detestavam Béria pelo seu papel nas purgas e constantes interferências no exército, o que se pode considerar um golpe simples, rápido e com uma boa dose de sorte). Agora o que sucedeu em seguida está aberto a discussões: segundo uma versão, logo de madrugada, um grupo de soldados com Krutschev teria ido à sua casa e assassinando, resolvido o problema. A versão oficial, é de que tendo Béria ido a uma reunião do presidium, teria sido aí preso por traição, espionagem e o habitual cliché estalinista. Efectuou-se depois um julgamento (sem defesa, unicamente com testemunhas de acusação ou sequer ouvir-se o preso), sendo então sentenciado à morte, com meia dúzia de colaboradores. Mas os tempos eram definitivamente outros: a sua família foi presa por pouco tempo (em vez de executada), e depois libertados sendo-lhes permitido que reconstruíssem as suas vidas.
No interior e exterior, toda a gente pensou que o caso se limitara a uma luta de poder, embora, alguns pensassem que o regime estava enfraquecido politicamente. Nos vários países aliados, as linhas duras iriam sair reforçadas, aproveitando-se para efectuar purgas. O comum soviético, não se preocupou muito, não tendo associado as reformas à figura repressora de Béria (as decisões saíam sempre em nome do colectivo, mesmo quando era ele que as tomava), e as posteriores reformas de Krustchev iriam reforçar essa crença.
E aos conspiradores? O núcleo duro (Molotov, Malenkov, Jukov e mais uns quantos), afastou-se rapidamente de Krustchev e tentou afasta-lo, mas com a ajuda de um jovem talentoso (Brejnev, como o mundo é irónico), prendeu-os. Foram expulsos do partido, perderam os seus privilégios mas não foram fuzilados. Tiveram de ir trabalhar como vulgares cidadãos, e morreram idosos e esquecidos.
Krustchev acabou por aplicar numerosas medidas preconizadas por Béria ou ficou com o crédito delas. Mas teve de fazer numerosas concessões: ao novo KGV, que acabara por ficar neutral com a prisão do seu chefe, com o exército e o partido que o apoiara; a sua margem de manobra para reformas ficou seriamente limitada, acabando por ser substituído quando as coisas começaram a correr mal.
O livro concluí perguntando-se o que teria feito Béria na via da destalinização, e se era possível com mais reformas salvar o sistema: controlando o aparelho policial e de informação, tendo numerosas informações sobre o que estava mal, e profundamente pragmático (sem provavelmente pudores ideológicos), faria o que fosse necessário para salvar o sistema. O livro tendo sido escrito após a queda do muro, considera que com todos os defeitos inerentes ao regime, ele estaria condenado de qualquer modo; mas a sobrevivência de diversos casos (nomeadamente China), prova que não teria de ser assim.
terça-feira, outubro 25, 2005
Béria-VI
Com o projecto da bomba nuclear, Béria estava aparentemente no auge do seu poder. Entre ele e Estaline, não existia nenhuma adversário poderoso, o que o tornava a segunda figura mais poderosa efectivamente (mesmo que não no estado soviético ou na aparência do poder - nas fotografias ele aprece sempre em 4 lugar ou ainda numa posição mais discreta). Ora o mecanismo que ele tão bem utilizara contra outros, começava a virar-se contra ele: Estaline começou a suspeitar dele. Mas ou por medo, ou porque precisasse dele, Estaline não o mandou prender. Começou lentamente a retirar-lhe cargos, a afastar os sequazes de Béria de cargos-chave, a utilizar outras figuras. Manobrando habilmente, Béria conseguiu eliminar alguns adversários. Mas o cerco aproximava-se. A perseguição que foi efectuada contra numerosos judeus detentores de cargos políticos, atingiu Béria que os protegera (por oposição a Krutschev que os detestava).
No seu último ano de vida, Estaline ainda estava mais paranóico (1953): mandou prender os diferentes médicos que o tratavam há vários anos (e aparentemente preparava-se para efectuar uma purga nessa profissão com o pretexto de conspiração a soldo dos estrangeiros), e mandou executar o seu guarda-costas de há 20 anos. Curiosamente, parece que ia efectuar também uma purga dentro do partido comunista e para tal ia usar Béria (talvez por isso o tivesse poupado).
Ora numa bela manhã, Estaline morreu. Ainda se ignora os pormenores dado existirem versões contraditórias, mas parece que os seus guarda-costas ao fim de algumas horas da madrugada suspeitaram que algo não estava bem, entraram, viram-no caído e em vez de chamar um médico, chamaram os superiores hierárquicos. O tempo de se juntarem todos, decidir o que fazer, até se decidirem a chamar um médico, levou a que Estaline (que sofrera uma hemorragia cerebral) estivesse sem cuidados médicos. Se alguns pretendem que os líderes estavam a ver se ele morria (deixando a natureza seguisse o seu curso), outros dizem que teria sido medo genuíno e incapacidade de reagir perante o que fazer com o Chefe que os paralisou. Quando se aperceberam que estava a morrer, começaram imediatamente a fazer contactos e procurar apoios. Morto Estaline, podia começar a luta pelo poder.
quarta-feira, outubro 19, 2005
Ptolomeu VIII Evergeta II (145-116)
Foi um dos soberanos da dinastia Lágida (da mesma dinastia que a famosa Cleópatra). Era filho de Ptolomeu V e irmão de Ptolomeu VI; associado ao trono do seu irmão, conspirou e destronou o seu irmão, mas tornou-se tão impopular que acabou por ser por seu turno destronado. Quando o seu irmão morreu, sucedeu-lhe, casou com a viúva Cleópatra II (que por acaso era irmã dos dois). Rapidamente Ptolomeu VII matou o filho da sua irmã (que era sobrinho pelos dois lado). Teve um filho da sua irmã, casou com uma filha dela (Cleópatra III), mas rapidamente uma revolta liderada pela irmã levou ao seu exílio; ordenou então que o filho que tivera com a irmã (ainda com uns 12 anos) fosse cortado aos bocados e enviado à irmã. De depois de uma série de complicações, pedidos de ajuda aos romanos, o casal teve de se reconciliar e viverem os 3 juntos (Ptolomeu VIII, Cleópatra II e a III).
Grande número de intelectuais da biblioteca de Alexandria e os judeus que tinham sido beneficiados pelo seu irmão tiveram de fugir (executando grande número dos que ficaram). Ordenou que várias manifestações da população de Alexandria fossem reprimidas; ordenou também a execução dos partidários do seu irmão ou que suspeitasse de deslealdade.
Terminados os anos de guerra e confusão, esforçou-se por administrar o país, e repor a normalidade com a irmã (mantendo as execuções de suspeitos). As suas medidas na economia parecem ter dado algum resultado. A população indígena apreciava-o (nos conflitos com a irmã ficaram sempre do lado dele), pois fez leis para os proteger dos abusos dos funcionários embora os greco-macedónios o detestassem. Mas o caos em que mergulhou o país nos primeiros anos e a sua vida privada, deixaram uma visão negativa para os historiadores.
sexta-feira, outubro 14, 2005
Béria-V
Quando terminou a guerra, Estaline decidiu que a URSS não poderia ficar atrás do poder nuclear dos EUA. Apesar de ter sido efectuada já alguma investigação, decidiu-se dar-lhe prioridade máxima, e para líder do projecto, foi escolhido Béria. O chefe da polícia política já provara a sua eficiência, e tivera experiência de lidar com grupos de cientistas (Tupolev o célebre construtor de aviões esteve preso num campo de cientistas do NKVD) e poderia “derrubar” quaisquer entraves administrativos que surgissem do aparelho burocrático. E de facto, assim sucedeu. Embora não tivesse formação académica na área, ele acompanhou sempre o projecto, lendo relatórios, e tratando da logística, pressionando/protegendo os cientistas conforme as necessidades, arranjando materiais e informações através da rede de espiões nos EUA. Se alguns cientistas se ressentiam (embora nunca se queixando abertamente) das intervenções de Béria, outros consideravam-no a uma luz favorável: era um indivíduo inteligente que procurava realmente resolver os problemas, inteirava-se dos dossiers, e dava-lhes as melhores condições de trabalho possíveis usando a sua autoridade. O resultado foi um primeiro teste bem sucedido em 1949, quando os norte-americanos pensavam que tal só seria possível lá para meados da década seguinte. Mantendo a supervisão dos projectos, Béria não pôde observar a primeira bomba de hidrogénio, dado que foi executado antes.
quinta-feira, outubro 13, 2005
Madame du Barry
Ao ver no fim-de-semana passado o filme “A inglesa e o duque” apeteceu-me fazer um post sobre a última favorita de Luís XV.
Luís XV foi-se democratizando com o tempo: no princípio do reinado escolhera como amantes, aristocratas da corte, depois teve Madame de Pompadour, oriunda da burguesia (o que provocara escândalo), e finalmente teve Madame du Barry, oriunda do povo. Du Barry que fora uma ex-prostituta e amante de diversos homens ricos fora introduzida à corte e rapidamente se tornou a favorita do monarca. O escândalo foi enorme: a sua origem social, a sua má reputação, linguagem livre, atiraram-lhe o ódio de todos. Teve uma rivalidade com Maria Antonieta (que sendo de sangue real não se dignava a falar-lhe), o que levou à divisão da corte e imensas intrigas, que contribuíram para aumentar o desagrado popular para com a corte real. Du Barry nunca tentou ter real influência no país, limitava-se a pedir festas, palácios e jóias ao seu real amante. Por muito mal visto que isso fosse, na prática acabava por ser muito mais inofensivo para as finanças francesas do que qualquer guerra.
A morte do seu amante, levou ao seu exílio. Mas com as riquezas adquiridas pôde manter um bom nível de vida. Com o rebentar da revolução francesa, usou a sua riqueza para apoiar exilados e a causa monárquica; numa viagem a França, foi presa e guilhotinada. Assim terminava um dos “símbolos” do antigo regime.
quarta-feira, outubro 12, 2005
Béria-IV
Depois da campanha da Polonha, os serviços secretos soviéticos foram recebendo sucessivos avisos de espiões seus e de outras potências dos planos alemães de invasão. Ora Béria tendo transmitido essas informações ao aperceber-se de que Estaline não lhes dava crédito decidiu fazer o mesmo: independentemente da sua opinião sobre o assunto, deve ter concluído que não valia a pena desagradar ao chefe e passou a esconder essas informações ou a desvaloriza-las (elas chegavam por outras vias a Estaline que as refutava com Béria a concordar com ele). Revelou-se a melhor decisão a nível pessoal, pois com a invasão todos os que tinham concordado com Estaline foram sendo recompensados, não sucedendo o mesmo às “Cassandras”. Béria entretanto mandou a prisão de e deportação de centenas de milhares de pessoas pertencentes a etnias que eram suspeitas (algumas nem o eram, mas Béria arranjava provas para mostrar o seu valor). Esses deportados eram transportados em comboios de gado, por vezes sem alimentos, aquecimento ou instalações sanitárias com paragens ocasionais para retirarem os mortos, durado semanas as viagens, sendo depois deixados em descampados onde teriam de recomeçar a vida: boa parte morreria quer nas viagens quer depois no Inverno.
O império do NKVD entretanto iria crescer: divisões eram criadas para policiamento das zonas libertadas, campos de internamento, e com o medo de Estaline do exército, o NKVD vigiava atentamente possíveis derrotismos no exército (ajudados pelos comissários). Béria pessoalmente intervinha em frentes de combate, passando por cima da autoridade dos militares, criando confusão. Para além disso, ajudou na mobilização da população no esforço de guerra.
O império do NKVD entretanto iria crescer: divisões eram criadas para policiamento das zonas libertadas, campos de internamento, e com o medo de Estaline do exército, o NKVD vigiava atentamente possíveis derrotismos no exército (ajudados pelos comissários). Béria pessoalmente intervinha em frentes de combate, passando por cima da autoridade dos militares, criando confusão. Para além disso, ajudou na mobilização da população no esforço de guerra.
sexta-feira, outubro 07, 2005
Béria-III
Na década de 20. Béria foi com habilidade livrando-se sucessivamente dos seus superiores e rivais na Geórgia, escrevendo relatórios e acumulando provas contra eles por incompetência ou falta de firmeza revolucionária, acabando por se tornar num líder local, e colocando os seus amigos em todos os cargos de confiança. Aproveitava também as visitas de Estaline à Geórgia para se tornar seu íntimo e da sua família. Quando se decidiu acabar com os Kulaks (proprietários fundiários), como estes eram praticamente inexistentes mas tinham de ser cumpridas quotas de prisioneiros, qualquer pessoa com um talhão de terra era incluída nessa categoria; Béria aproveitou-se da renitência dos seus superiores em prender e deportar os camponeses para os denunciar.
Ora a leitura do capítulo sobre as purgas dos anos 30 é surreal para se compreender o funcionamento do sistema soviético. Estaline substituiu o chefe do NKVD (futura KJB) e começaram-se a descobrir numerosos inimigos internos (dentro do partido comunista) a soldo de potências estrangeiras sendo boa parte deles, velhos membros do partido comunista que sempre tinham sido fiéis. Por alto, deu-se uma “renovação” em cerca de 10% do partido e a esmagadora maioria dos oficiais a partir de coronel. A explicação actualmente encontrada, é de que Estaline teria procurado eliminar todas as figuras que tinham alguma independência e que poderiam opor-se ao seu domínio absoluto (para além de uma paranóia inerente). Para tal, contou com a colaboração de pessoal mais jovem, e de segundo plano que colaborou activamente na eliminação dos seus superiores ascendendo aos cargos; numa segunda vaga, também foram eliminados, para acentuar o clima de terror, e não ficarem com a ideia de que o chefe dependia deles. Parece-me que o assunto é um pouco mais complexo (nomeadamente a desorganização na economia que a eliminação dos quadros superiores provocou, deve ter levado à necessidade de arranjar bodes expiatórios).
E Béria no meio de isto tudo? Ajudou a denunciar traidores (normalmente adversários seus ou pessoal com quem tinha velhas contas a ajustar), mas as purgas afectaram-no pois quase foi executado e viu vários dos seus apoiantes a caírem (não tendo a paranóia de Estaline, criara uma clientela na Geórgia que lhe era fiel e a quem cumulava privilégios).
Ordenou que fosse escrita um a biografia de Estaline que exaltava o seu papel na sua juventude (teria organizado ainda no seminário manifestações, sabotagens e jornais), absolutamente inventada; ao aperceber-se que outras biografias e histórias da URSS anteriores não “provavam” esses factos, mandou prender os historiadores traidores. Aliás, mandou mais tarde fuzilar os colaboradores que tinham escrito esse livro de história, dado que poderiam por em causa a autoria de Béria. Boa parte dos intelectuais e artistas Georgianos acabaria por ser presa também.
Quando depois de uma série de purgas, foi necessário substituir o chefe da NKVD (que foi eliminado depois de conduzir as purgas, deixando de ser necessário), Béria foi chamado a Moscovo e substituí-o. Ora parece que de modo geral, a melhoria foi para melhor (de acordo com a lógica soviética). Béria mandou executar toda a cúpula da NKVD (se o chefe fora um traidor, os subordinados logicamente também o eram), como era natural, mas abrandou o terror (que já não era tão necessário). Os presos deixavam de ser espancados muitas vezes até à morte e depois convencidos a assinar a confissão e (como fora a regra), e passavam a ser instados a assinar, dado que seriam condenados de qualquer modo (a menos que Béria tivesse assuntos pessoais a resolver, o que era em casos pontuais e aí ele poderia ser verdadeiramente selvagem). Começou a haver alguma preocupação em alimentar os presos de forma conveniente (mesmo assim, morriam todos os anos milhares de presos pelas más condições) e em aproveitá-los de forma eficaz para trabalhos úteis ao país. Construindo-se barragens, pontes, estradas e explorando fontes de riqueza, (petróleo, carvão), Béria pôde mostrar brilhantes resultados económicos a Estaline e construir um pequeno império particular. Os subordinados de Béria gostavam dele, dado que ele lhes garantia a segurança e condições de vida.
A menina ao colo de Béria, é a filha da figura com o cachimbo; a foto foi tirada ainda nos anos 30, antes da ascenção de Béria ao NKVD.
terça-feira, outubro 04, 2005
Falta de memória...
...É o nosso grande mal. É extraordinário como a homenagem de ontem do Presidente da República aos prisioneiros do Tarrafal passou completamente despercebida. Em qualquer país que vivesse um bocadinho melhor consigo próprio este acontecimento teria sido transformado, no mínimo, num dia de reflexão nacional. A cerimónia teria sido transmitida nas televisões em directo, teria havido solenidade e emoção. Não é todos os dias que se lembra um dos episódios mais negros da história contemporânea portuguesa, e seria bom que as gerações mais novas soubessem que Portugal também teve o seu campo de concentração.
O que vimos foi a tristeza envergonhada do costume: uns discursos, umas coroas de flores, e acabou. Espero que isto, para os sobreviventes que estiveram presentes, tenha parecido melhor do que me pareceu a mim. Com o passar dos anos (e já lá vão quase 70 desde a abertura do campo), não é previsível que haja muitas mais oportunidades para homenagear os antigos prisioneiros.
Nestas alturas, a comunicação social está sempre à mão para servir de bode expiatório do nosso desconforto com a nossa própria História. Mas não tenhamos ilusões: se estes acontecimentos são quase ignorados, não é porque os jornalistas não lhes dão importância; nós, enquanto povo, é que os usamos apenas como descarga da nossa má consciência; não os assumimos, queremos que passem depressa; frequentemente, tornam-se em exercícios fúteis e indignos.
Como outros já o disseram, Portugal tem História a mais, e o pior é que vivemos mal com ela. Continuamos a misturar a política e a ideologia com tudo o resto. Preferimos continuar divididos onde devíamos estar unidos. Não gostamos de nós próprios, e quando não gostamos de nós próprios a História e as pessoas que a fizeram são maltratadas.
O que vimos foi a tristeza envergonhada do costume: uns discursos, umas coroas de flores, e acabou. Espero que isto, para os sobreviventes que estiveram presentes, tenha parecido melhor do que me pareceu a mim. Com o passar dos anos (e já lá vão quase 70 desde a abertura do campo), não é previsível que haja muitas mais oportunidades para homenagear os antigos prisioneiros.
Nestas alturas, a comunicação social está sempre à mão para servir de bode expiatório do nosso desconforto com a nossa própria História. Mas não tenhamos ilusões: se estes acontecimentos são quase ignorados, não é porque os jornalistas não lhes dão importância; nós, enquanto povo, é que os usamos apenas como descarga da nossa má consciência; não os assumimos, queremos que passem depressa; frequentemente, tornam-se em exercícios fúteis e indignos.
Como outros já o disseram, Portugal tem História a mais, e o pior é que vivemos mal com ela. Continuamos a misturar a política e a ideologia com tudo o resto. Preferimos continuar divididos onde devíamos estar unidos. Não gostamos de nós próprios, e quando não gostamos de nós próprios a História e as pessoas que a fizeram são maltratadas.
terça-feira, setembro 27, 2005
concurso
Bem, já que ninguém votou para já num pintor barroco, começo eu. Tenho um fraquinho pelos mestres dos países baixos e entre eles destaco Vermeer. Aproveito para colocar um quadro e como já coloquei uma vez aqui o "rapariga com brinco de pérola", coloco outro que aprecio muito "Jovem com dois senhores"
Fólios Virtuais
Não resisto a recomendar seriamente este site: www.bl.uk/onlinegallery/ttp/ttpbooks.html. Um serviço da Biblioteca Nacional Britânica que permite consultar e folhear virtualmente alguns dos mais preciosos livros do mundo, como um Atlas de Mercator, o De Humani Corporis Fabrica de Vesálio, o Livro das Horas da família Sforza e um dos cadernos de apontamentos de Leonardo da Vinci.
Consultem e deslumbrem-se. (É necessário ter o Macromedia Flash Player instalado).
Consultem e deslumbrem-se. (É necessário ter o Macromedia Flash Player instalado).
segunda-feira, setembro 26, 2005
Béria-II
Béria era oriundo da Geórgia, de uma remota aldeia, pertencendo a uma minoria aparentada com a maioria dos Georgianos. Estudou, e na adolescência aderiu ao movimento bolchevique (a maioria dos Georgianos era menchevique). Quando estalou a revolução russa, fez trabalhos de infiltração como agente contra outros partidos. Casou com a filha dum importante membro do partido comunista russo. Com a fundação da cheka (polícia contra-revolucionária), pela sua experiência recebeu cargos de importância regional. Contribuiu para que as repúblicas recém-independentes do trans-caucaso, voltassem a ser ocupadas pelos russos. A partir de 1922, depois de alguma moderação, Moscovo decidiu esmagar todo a oposição (antiga nobreza e outros partidos) que tinham sido mais ou menos tolerados nessas novas repúblicas, participando Béria activamente nessa repressão (executando milhares de pessoas), o que lhe permitiu ascender dentro da hierarquia do partido.
quinta-feira, setembro 22, 2005
Beria
Ofereceram-me uma biografia sobre Béria e nos próximos tempos vou postar o que ler. Para quem ignora, foi o chefe da polícia secreta da U.R.S.S. de Estaline. Este possui os seus numerosos adeptos e detractores, entre os que o vêem como o grande líder do comunismo e os que acham que ele é comparável a Hitler. Béria não tem direito a nada disso, sendo visto como um mero carrasco do regime. Ainda só li a introdução mas o livro parece ser surpreendente. Embora longe de ser uma reabilitação deste sinistro personagem (responsável pela aplicação prática de toda a repressão Estalinista e tendo hábitos privados repulsivos), é visto como um sobrevivente de Estaline, que compreendendo a personalidade paranóica de Estaline, alimentava essa paranóia inventando conspirações e traidores, e bajulando-o de forma a desviar atenções para os outros e tornando-se todo-poderoso ao tornar-se indispensável. E o fim é surpreendente. Mais uma nota, sobre a descrição do ambiente que rodeava Estaline. Ao contrário do ambiente de Hitler que fazia uma separação entre as pessoas do seu ambiente de trabalho e o privado (Himmler, Goebels sendo personagens pilares do regime, não faziam parte do seu grupo íntimo em que se recolhia), parecendo semelhante a reuniões de vizinhos com mulheres e filhos, e falando de banalidades, mas tudo muito discreto, o grupo de Estaline parecia a reunião de um grupo de adolescentes travessos. Depois de passarem o dia todo a trabalhar juntos, reuniam-se à noite para jantarem, beberem, contarem anedotas, gabarem-se e elogiar o chefe; as mulheres não eram admitidas nesse ambiente.
quinta-feira, setembro 15, 2005
Poética
Quem leu “O nome da Rosa” de Humberto Eco recorda-se que tudo girava à volta de um livro, o 2º da Poética de Aristóteles que estaria perdido. Ora aparentemente esse livro existiu mesmo. O livro “Poética”, tal como está, trata da tragédia e da épica; no 6º capítulo, Aristóteles refere que irá mais tarde tratar da comédia, coisa que não faz. Na antiguidade, foi feita uma compilação das suas obras (por volta do séc. III/II A.C.) e eram indicados 2 livros da poética (correspondendo o 1º ao que actualmente existe). No entanto no séc. VI não é feita qualquer referência a esse 2º volume; deste modo a obra perdeu-se muito cedo. A versão mais antiga (do 1º volume da poética, chamemos-lhe assim) que nos resta é do séc. X, em grego, que contém apenas alguns erros gramaticais; existe contemporânea sua, uma versão árabe que teria sido copiada de uma versão síria. Ora não tendo o tradutor árabe, o quadro de referências mental que lhe permitia compreender o teatro grego, fez uma tradução literal, que sendo incompreensível por vezes, por outras permite corrigir o que se entende terem sido adaptações feitas pela versão bizantina.
Uma última nota: existiu um gramático da antiguidade que ao aperceber-se do desaparecimento da parte dedicada à comédia elaborou uma obra para colmatar a lacuna
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Uma última nota: existiu um gramático da antiguidade que ao aperceber-se do desaparecimento da parte dedicada à comédia elaborou uma obra para colmatar a lacuna
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terça-feira, setembro 13, 2005
Os Hojo
Os Hojo criaram o que foi recordado como um tempo de grande prosperidade económica. De origem Taira, tinham-se aliado aos Minamoto e com alguns casamentos e assassinatos bem sucedidos, tornaram-se o cdlã dirigente do Japão. Do que se sabe, melhoraram a situação dos camponeses, permitiram uma maior liberdade económica para o comércio, sobretudo com o exterior (até então só uma cidade detinha esse privilégio, e devido aos impostos esmagadores assim como os subornos, tornavam o comércio proibitivo). Sendo o clã mais poderoso, tentaram aliar-se a outros clãs por casamento. Mantiveram a estrutura política (os funcionários da corte imperial), e adaptaram-na às modificações do tempo. Criaram um sistema algo descentralizado: embora existisse um shogun (que por vezes nem sequer era Hojo), vários membros do clã partilhavam com o chefe a direcção para evitar a sobrecarga de poderes e a criação de eminências pardas. A ameaça mongol permitiu-lhes efectuar uma certa centralização de poder, ao nomearem directamente governadores e responsáveis pela defesa de zonas (até então só com muita intriga se conseguiam introduzir em zonas de outros clãs). Conseguiram deste modo fazer face aos mongóis (embora fosse a mãe natureza que resolvesse o problema), mas isso provocou um imenso problema. Todos os mobilizados exigiam que fossem remunerados pelas despesas que tinham tido (sobretudo os membros de outro clã, sem laços vassálicos aos Hojo), assim como os monges dos templos que consideravam que as suas orações tinham comovido os deuses para criar os furacões que tinham destruído as frotas Mongóis. A partir daí, a situação foi-se lentamente deteriorando: a sua tentativa de centralização conheceu cada vez mais resistências, Hojos colaterais tentaram obter a sua primazia, o sistema de poderes partilhados também começou a fracassar. A intromissão numa sucessão imperial, que levou à criação de duas cortes levaria a sucessivas revoltas, tendo alguns dos principais apoiantes dos Hojo transferido o seu apoio para os revoltosos, provocando a queda dos Hojo, começando um novo shogunato, o dos Ashikaga. OS Hojo duraram apenas um século e meio.
sexta-feira, setembro 09, 2005
autor de setembro
terça-feira, setembro 06, 2005
Regresso
Bem, voltei das minhas férias. Com os meus afazeres domésticos não tive hipóteses de ir a qualquer sítio, portanto máximo que fiz foi ler. Do melhor (as histórias de Políbio) ao pior (the machine crusade uma "prequela" de dune).
Na praia continuei a leitura de "The tale of Genji". No capítulo que li (o 6º) Genji passou uns meses a tentar conquistar uma princesa pobre (vivia num palácio com apenas 5 damas de companhia, mais o resto dos criados) que sabia tocar sofrivelmente (binzen creio), mas era tão tímida e pouco bela, que assim que Genji conseguiu falar com ela, e olha-la cara-a-cara (até então fizera-o de noite através de um biombo), acabou por desistir; por simpatia começou a ajuda-la financeiramente. Entretanto a sua pequena protegida está a crescer.
Na praia continuei a leitura de "The tale of Genji". No capítulo que li (o 6º) Genji passou uns meses a tentar conquistar uma princesa pobre (vivia num palácio com apenas 5 damas de companhia, mais o resto dos criados) que sabia tocar sofrivelmente (binzen creio), mas era tão tímida e pouco bela, que assim que Genji conseguiu falar com ela, e olha-la cara-a-cara (até então fizera-o de noite através de um biombo), acabou por desistir; por simpatia começou a ajuda-la financeiramente. Entretanto a sua pequena protegida está a crescer.
Desvarios arqueológicos
É frequente criticar-se a falta de rigor histórico de muitos filmes americanos, sendo este, aliás, um passatempo muito praticado por historiadores à saída dos cinemas. Mas o facto é que, por vezes, a culpa desta falta de rigor não é de produtores, realizadores e argumentistas, mas sim dos próprios historiadores.
Veja-se o caso do clássico Ben-Hur. Querendo reproduzir fielmente o circo de Jerusalém, onde decorre a célebre corrida de quadrigas, os produtores consultaram um arqueólogo a propósito do estilo que teria o estádio. "Estilo Romano", foi a resposta do arqueólogo.
Consultaram outro arqueólogo, por via das dúvidas, que retorquiu que o estilo era "Fenício".
Para desempatar o casa consultaram ainda um terceiro arqueólogo, cuja resposta foi "Estádio? Qual estádio? Não sabia que Jerusalém tinha um estádio."
Veja-se o caso do clássico Ben-Hur. Querendo reproduzir fielmente o circo de Jerusalém, onde decorre a célebre corrida de quadrigas, os produtores consultaram um arqueólogo a propósito do estilo que teria o estádio. "Estilo Romano", foi a resposta do arqueólogo.
Consultaram outro arqueólogo, por via das dúvidas, que retorquiu que o estilo era "Fenício".
Para desempatar o casa consultaram ainda um terceiro arqueólogo, cuja resposta foi "Estádio? Qual estádio? Não sabia que Jerusalém tinha um estádio."
sexta-feira, julho 29, 2005
quarta-feira, julho 27, 2005
Phallus
O Herodoto deste blog mandou-me esta notícia, que achei curiosa o suficiente para postar.
http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/4713323.stm
terça-feira, julho 26, 2005
A História de Genji (Genji Monogatari)
Voltei a pegar na epopeia de Genji (que comecei a ler no verão passado). Para quem não sabé, é considerado "o" clássico da literatura Japonesa e um dos maiores da mundial.
Para já, Genji interessou-se por uma jovem que lhe faz lembrar uma outra mulher que foi o seu grande amor e que já morreu (pelas minhas contas foi o 3º grande amor, e por coincidência a jovem é parente desse grande amor). A chatice é que a jovem é demasiado jovem (pelas entrelinhas deve menos de 10 anos) e a avó da menina (a mãe morreu e o pai não lhe liga) disse a Genji que embora fosse uma enorme honra, a miúda “é demasiado nova para o que ele quer”. Genji bem tentou explicar que não é nada disso, que apenas a quer educar (a narradora diz que ele quer aproveitar as semelhanças com o seu amor para a moldar para ela se tornar o amor ideal, embora tenha de aguardar uns anos pelo resultado final). Vai ensinando-lhe a escrever poemas com os parcos caracteres que ela conhece (que ainda por cima devem ser todos Japoneses e não chineses). E assim vai entretendo o seu tempo.
Para já, Genji interessou-se por uma jovem que lhe faz lembrar uma outra mulher que foi o seu grande amor e que já morreu (pelas minhas contas foi o 3º grande amor, e por coincidência a jovem é parente desse grande amor). A chatice é que a jovem é demasiado jovem (pelas entrelinhas deve menos de 10 anos) e a avó da menina (a mãe morreu e o pai não lhe liga) disse a Genji que embora fosse uma enorme honra, a miúda “é demasiado nova para o que ele quer”. Genji bem tentou explicar que não é nada disso, que apenas a quer educar (a narradora diz que ele quer aproveitar as semelhanças com o seu amor para a moldar para ela se tornar o amor ideal, embora tenha de aguardar uns anos pelo resultado final). Vai ensinando-lhe a escrever poemas com os parcos caracteres que ela conhece (que ainda por cima devem ser todos Japoneses e não chineses). E assim vai entretendo o seu tempo.
quarta-feira, julho 20, 2005
Arqueoblogo
É com muita pena que vejo encerrar o arqueoblogo. O Marco colaborou comigo e com o Filipe no Roma Antiga, e tinha um excelente blog de arqueologia.
terça-feira, julho 19, 2005
quinta-feira, julho 14, 2005
14 de Julho
quarta-feira, julho 13, 2005
Inocencio III
Teve um pontificado de 1198 a 1216. Foi extremamente intervencionista do0 ponto de vista político. Apoiou diversos candidatos para o trono imperial que estava vago, conforme quem lhe oferecia mais garantias de respeitar a sua independencia (acabou por apoiar Frederico II o que é uma ironia atendendo aos conflitos que teve com a S. Sé). Moderou os reis peninsulares nos seus conflitos (e aqui entramos nós)e pregando a IV cruzada legitimou a conquista de Constantinopla que foi tratada como se fosse uma cidade inimiga. Ainda temos as intervenções contra os albigences no sul de França com uma cruzada, as alianças/mediações de França/Inglaterra e um sem número de conflitos menores. O Vaticano estava no auge como árbitro internacional, mediando conflitos (ou criando-os), utilizando a diplomacia ou a excomunhão. Claro que com o falecimento do Papa, essa autoridade iria progressivamente dissipar-se.
Do ponto de vista doutrinal, reuniu o concílio de Latrão (onde se aprovou e regulou um pouco de tudo, desde a proibição de beber e casar para os padres, a obrigatoriedade de confissão uma vez por ano a um padre, a até a obrigatoriedade de usar marcas distintivas nas roupas para muçulmanos e judeus).
Do ponto de vista doutrinal, reuniu o concílio de Latrão (onde se aprovou e regulou um pouco de tudo, desde a proibição de beber e casar para os padres, a obrigatoriedade de confissão uma vez por ano a um padre, a até a obrigatoriedade de usar marcas distintivas nas roupas para muçulmanos e judeus).
quinta-feira, julho 07, 2005
quarta-feira, julho 06, 2005
terça-feira, julho 05, 2005
Durer
Bem, o vencedor de Junho foi Durer. Portanto vai ser o mês com gravuras e retratos deste artista.
segunda-feira, julho 04, 2005
O período Heian-IV
Curiosamente, no final do período, os imperadores iriam voltar a exercer autoridade. Até ao séc. XI, o clã Fujiwara, fora todo-poderoso, tendo o chefe do clã o título de regente ou chanceler (cargos públicos), colocando familiares ou aliados nos lugares chave da administração; nas províncias, os governadores e nobres locais que estavam a deixar de pagar impostos, entregavam “presentes” ao regente, para que este fechasse os olhos à fuga ao fisco, que empobrecia o estado mas no momento favorecia-o; casando as filhas com imperadores (ainda crianças) e herdeiros e obrigando-os a abdicar pouco depois da ascensão ao trono (subindo ao trono herdeiros na maioria das vezes bebés), garantia-lhes a ausência de concorrência. Mas nunca tomaram o passo decisivo de subir o último degrau (razões religiosas e de prestigio: desprovido de poder real, o imperador descendente de uma deusa, ele próprio de certo modo um deus, incarnava a própria nação). Ora em meados do séc. XI, a morte encarregou-se de eliminar todos os herdeiros imperiais filhos ou sobrinhos dos Fujiwara e só restou o príncipe Go-Sanjo, que ainda por cima era já adulto. Este, tratou de formar um partido que o apoiasse e nomeou pessoas de outros clãs (sobretudo Taira e Minamoto) para Kugios (quadros superiores da administração e da corte, que tinham de ser descendentes de um imperador). Coincidindo com alguma divisão nos Fujiwara, conseguiu os seus intentos. Alguns anos depois abdicou, em favor de um herdeiro (que também não era descendente de Fujiwaras), Shikirawa, estipulando que deveria abdicar em favor de um irmão, devendo este fazer o mesmo em favor de outro mais novo. Shikirawa manteve a política de seu pai (que faleceu alguns anos depois da abdicação, sem mexer muito em política), mas abdicou em favor de um filho seu. Com a morte do seu filho, colocou no trono outros filhos e netos e foi governando, até que morrendo, o imperador Toba sucedeu-lhe. Abdicou pouco depois, e repetiu o esquema com os seus herdeiros, governando na menoridade (real ou forçada) dos seus descendentes. E chegou o imperador Go-Shikirawa, que manteve a política dos seus predecessores. Como podemos ver, os imperadores tinham acabado por repetir o esquema inventado pelos Fujiwara em proveito próprio, gozando de maior autoridade (podiam mesmo formular éditos que tinham poder legal). Mas cometeram um erro que lhes foi fatal. A clientela em que se apoiaram na submissão dos imperadores e Fujiwara (pois houve conflitos com eles), era a dos samurai e clãs guerreiros. Os Taira e Minamoto foram sendo sucessivamente promovidos, recebendo honrarias, cargos e sendo usados, até que se aperceberam da sua real força contra a qual a corte nada podia fazer. Quando estalou a guerra Gempei (1180-1185), os dois grandes clãs guerreiros tiraram a máscara lutando pelo poder de armas nas mãos e não com intrigas de corte. Os Minamoto ganharam, e não aceitando os cargos da corte, legalizaram um sistema baseado no feudalismo e obediência aos superiores numa relação pessoal.
Como surgiram os samurais? A palavra vem de um termo que designava aqueles que serviam de homens armados de homens importantes. O sistema militar do Japão baseara-se até ao séc. VIII na conscrição de camponeses. O resultado eram combatentes de duvidoso valor, que só pensavam em voltar para casa dado os custos da campanha (o estado nada lhes pagava) e os riscos. Com a privatização do solo, formou-se uma classe de proprietários, com dinheiro para se equiparem bem; os senhores locais habituaram-se a armar homens ou recrutar quem soubesse combater (muitas vezes ex-bandidos ou emishi- bárbaros do nordeste). Da amálgama destes vários elementos, teria surgido a nova classe.
terça-feira, junho 28, 2005
segunda-feira, junho 27, 2005
O período Heian- III
De grande relevo na cultura Heian foi a Academia. Foi fundada para divulgar o conhecimento da literatura e cultura chinesas de modo a cultivar as elites. Aí, professores (muitas vezes de origem chinesa), ensinavam o direito, os clássicos, um pouco dos cânones. Diversos anos de estudos e exames eram exigidos. Mas no entanto algumas limitações foram reduzindo o alcance desse projecto. Para se alcançar um cargo importante, o fundamental era pertencer-se a um clã importante não sendo necessário o comprovativo da academia (embora para obter cargos de menor relevo pretendidos por membros de clã pouco importantes já fosse uma quase garantia a posse do certificado, o que é paradoxal). Rapidamente os cargos na academia foram-se tornando hereditários (e não por nomeação pelos governantes ou pelo professor) dentro de certos clãs; começaram a surgir acusações de favoritismo na passagem de exames (os professores apenas passavam os seus familiares para mais ninguém poder ser mestre). A academia foi-se tornando cada vez mais fechada, o seu prestígio caiu, até estar em ruínas e no final do período Heian (séc. XII), depois de um incêndio foi abandonada.
Sendo o chinês a língua literária em que eram escritos poemas, jogos, histórias, e tudo o que valia a pena ser escrito, vemos curiosamente que foi na língua Japonesa que foram escritas as obras-primas e por mulheres, que sendo menos cultas, não deviam ter esgotado a sua criatividade a decorar os clássicos chineses.
A epopeia de Genji por Murakami (desconhece-se o nome da autora, por isso é usado este nome), uma estória que se prolonga por várias gerações é considerada uma das obras maiores da literatura mundial. Descreve a sociedade corte com numerosas descrições psicológicas de forma viva (pessoalmente ainda não terminei de o ler, mas concordando com o que é descrito, acho o livro entediante, decididamente não tenho preferência por sociedades cortesãs). Um outro livro contemporâneo escrito por outra mulher, é uma colecção de descrições com todos os preconceitos de uma mulher de corte (um exemplo: ela refere-se à vista repugnante de um homem peludo a dormir à sombra de uma árvores considerando que o homem se tivesse um mínimo de bom gosto ficaria escondido durante o dia e só sairia à noite quando ninguém o visse).
O Japão mantendo-se fiel à sua religião tradicional (o xintoismo, numa qual são adorados os Kami- algo que tanto podem ser deuses como espíritos dos antepassados) e existem rituais praticamente para tudo, deu um enorme relevo ao budismo. Faziam parte das embaixadas para a china, grupos de monges que deviam aprender tudo o que podiam, copiavam textos sagrados, mantras, etc. Ora, Um dos monges numa expedição, tratou de aprender o máximo que pôde sobre esoterismo. Aprendendo numerosos encantamentos de protecção, acabou por criar a sua própria versão de budismo. Otras seitas seguiram os seus passos (iniciando-se com monges da sua seita ou aprendendo directamente na China), diminuindo assim a importância do conhecimento literário na religião em favor de uma religião mais “prática”.
Outro monge considerou que se estava a cair num período de decadência em que as pessoas eram incapazes de ter força para cumprir os preceitos budistas (não matar, comer carne, etc) e o melhor era esforçar-se mais pela atitude e simplificar as exigências (basicamente, baixar a fasquia). Esta doutrina tornou-se popular para com todos os que não podiam cumprir o budismo a preceito (que se limitava aos monges, e mesmo destes falarei depois) como guerreiros, pescadores, caçadores. Também existiam discussões entre seitas que defendiam que todos tinham a possibilidade de reencarnar e tornar-se melhor, e outros que defendiam que os eta (equivalente aos pária) estavam excluídos desse ciclo.
As seitas tradicionais de Nara (a antiga capital), com a sua prosperidade económica (doações de dinheiro e terras pelo estado e aristocratas) tinham-se relaxado disciplinarmente. Chegavam a ter filhos, emprestar dinheiro (num caso chegou aos 180% de juros anuais!), beber e comer como grandes senhores. Logo eram incapazes de cumprir com os seus deveres de zelar com orações pelo país. As novas seitas que referi anteriormente, embora se mantivessem mais disciplinadas moralmente lutavam entre sí por pontos de prestigio edoutrina, chegando a criar verdadeiros batalhões de monges que saqueavam mosteiros vizinhos (surgindo futuramente os temíveis exércitos de sohei).
Sendo o chinês a língua literária em que eram escritos poemas, jogos, histórias, e tudo o que valia a pena ser escrito, vemos curiosamente que foi na língua Japonesa que foram escritas as obras-primas e por mulheres, que sendo menos cultas, não deviam ter esgotado a sua criatividade a decorar os clássicos chineses.
A epopeia de Genji por Murakami (desconhece-se o nome da autora, por isso é usado este nome), uma estória que se prolonga por várias gerações é considerada uma das obras maiores da literatura mundial. Descreve a sociedade corte com numerosas descrições psicológicas de forma viva (pessoalmente ainda não terminei de o ler, mas concordando com o que é descrito, acho o livro entediante, decididamente não tenho preferência por sociedades cortesãs). Um outro livro contemporâneo escrito por outra mulher, é uma colecção de descrições com todos os preconceitos de uma mulher de corte (um exemplo: ela refere-se à vista repugnante de um homem peludo a dormir à sombra de uma árvores considerando que o homem se tivesse um mínimo de bom gosto ficaria escondido durante o dia e só sairia à noite quando ninguém o visse).
O Japão mantendo-se fiel à sua religião tradicional (o xintoismo, numa qual são adorados os Kami- algo que tanto podem ser deuses como espíritos dos antepassados) e existem rituais praticamente para tudo, deu um enorme relevo ao budismo. Faziam parte das embaixadas para a china, grupos de monges que deviam aprender tudo o que podiam, copiavam textos sagrados, mantras, etc. Ora, Um dos monges numa expedição, tratou de aprender o máximo que pôde sobre esoterismo. Aprendendo numerosos encantamentos de protecção, acabou por criar a sua própria versão de budismo. Otras seitas seguiram os seus passos (iniciando-se com monges da sua seita ou aprendendo directamente na China), diminuindo assim a importância do conhecimento literário na religião em favor de uma religião mais “prática”.
Outro monge considerou que se estava a cair num período de decadência em que as pessoas eram incapazes de ter força para cumprir os preceitos budistas (não matar, comer carne, etc) e o melhor era esforçar-se mais pela atitude e simplificar as exigências (basicamente, baixar a fasquia). Esta doutrina tornou-se popular para com todos os que não podiam cumprir o budismo a preceito (que se limitava aos monges, e mesmo destes falarei depois) como guerreiros, pescadores, caçadores. Também existiam discussões entre seitas que defendiam que todos tinham a possibilidade de reencarnar e tornar-se melhor, e outros que defendiam que os eta (equivalente aos pária) estavam excluídos desse ciclo.
As seitas tradicionais de Nara (a antiga capital), com a sua prosperidade económica (doações de dinheiro e terras pelo estado e aristocratas) tinham-se relaxado disciplinarmente. Chegavam a ter filhos, emprestar dinheiro (num caso chegou aos 180% de juros anuais!), beber e comer como grandes senhores. Logo eram incapazes de cumprir com os seus deveres de zelar com orações pelo país. As novas seitas que referi anteriormente, embora se mantivessem mais disciplinadas moralmente lutavam entre sí por pontos de prestigio edoutrina, chegando a criar verdadeiros batalhões de monges que saqueavam mosteiros vizinhos (surgindo futuramente os temíveis exércitos de sohei).
sábado, junho 25, 2005
O período Heian-II
Do ponto de vista cultural, o período heian manteve a tradi~ção: absorção de tudo o que podia da cultura chinesa. Enviavam-se embaixadas com centenas de estudantes para aprender direito, poesia, religião (budista), arte; ainda por cima estando a China no seu auge cultural com a dinastia Tang, o brilho e atracção eram maiores. À medida que os séculos foram passando, a situação começou alrerar-se: os Japoneses consideravam que já tinham aprendido o que precisava, a dinastia Tang foi perdendo o controlo do país tornando perigosas as viagens de sí caras (agravado pelo facto da própria corte japonesa estar a empobrecer).
Todo o aristocrata com pretensões de fazer carreira devia aprender o chinês escrito; o chinês falado era privilégio de alguns professores descendentes de chineses que formavam uma casta especializada no ensino. Aprendidos os caracteres considerados básicos, e um pouco de literatura, era dado grande relevo à aprendizagem da poesia, e sobretudo à arte de fazer poemas de forma a brilhar na corte.
Todo o aristocrata com pretensões de fazer carreira devia aprender o chinês escrito; o chinês falado era privilégio de alguns professores descendentes de chineses que formavam uma casta especializada no ensino. Aprendidos os caracteres considerados básicos, e um pouco de literatura, era dado grande relevo à aprendizagem da poesia, e sobretudo à arte de fazer poemas de forma a brilhar na corte.
quarta-feira, junho 22, 2005
Outra Anunciação
Mas desta vez de Fra Angelico
Entretanto, já estou a usar bogu no kendo. Estar uma armadura de cerca de 5 kg, com máscara e a roupa (kendogi e Hakama) que de sí já é quente torna-se um verdadeiro forno e suamos permanentemente. Depois dos aquecimentos e dos exercício a sério (1h 30) fica-se com uma sensação de esgotamento. Imagino que numa batalha a sério com mais uns kgs de armadura a sério, espada e afins, isso encurtaria consideravelmente a batalha em tempo.(antes que perguntem, não sou nenhum dos praticantes da foto).
terça-feira, junho 21, 2005
domingo, junho 19, 2005
Pestes e Epidemias I
Resolvi abordar uma temática sobre uma das maiores causas de morte durante a história: as epidemias e/ou pestes.
É sabido que os seres humanos não sofrem da mesma maneira relativamente a todas as doenças. Meras doenças infantis numa zona tornam-se epidemias mortíferas noutra. Até uma tosse convulsa (Bordetella pertussis) ou mesmo a varicela (virus varicela-zoster) podem matar milhões numa "zona epidemicamente virgem", se ninguém (de entre esse milhões de pessoas) tiver qualquer resistência a eles. Por exemplo, a tosse convulsa pode ter morto metade da população no Japão nos finais do século IX d.C. Mas o caso mais conhecidona história é a taxa de mortalidade de 90% (aproximadamente) de Ameríndios após os contactos constantes mantidos com os Europeus desde 1492. Embora os conquistadores tenham morto grande parte da população em várias zonas, era fisicamente impossível terem massacrado tão vastas populações. Grupos pequenos demais para levarem com eles as doenças do "Velho Mundo", estabeleceram-se no "Novo Mundo" durante as Glaciações, e poucas doenças surgiram nos 30 mil anos seguintes.
(continua)
É sabido que os seres humanos não sofrem da mesma maneira relativamente a todas as doenças. Meras doenças infantis numa zona tornam-se epidemias mortíferas noutra. Até uma tosse convulsa (Bordetella pertussis) ou mesmo a varicela (virus varicela-zoster) podem matar milhões numa "zona epidemicamente virgem", se ninguém (de entre esse milhões de pessoas) tiver qualquer resistência a eles. Por exemplo, a tosse convulsa pode ter morto metade da população no Japão nos finais do século IX d.C. Mas o caso mais conhecidona história é a taxa de mortalidade de 90% (aproximadamente) de Ameríndios após os contactos constantes mantidos com os Europeus desde 1492. Embora os conquistadores tenham morto grande parte da população em várias zonas, era fisicamente impossível terem massacrado tão vastas populações. Grupos pequenos demais para levarem com eles as doenças do "Velho Mundo", estabeleceram-se no "Novo Mundo" durante as Glaciações, e poucas doenças surgiram nos 30 mil anos seguintes.
(continua)
sexta-feira, junho 17, 2005
O período Heian
Em 794, uma intriga de corte, levou ao trono do Japão o neto de um anterior imperador, em vez de um filho. A mudança dinástica teria consequências importantes. Depois de vários problemas, o imperador Kammu decidiu abandonar a capital Nara, e depois de sucessivas mudanças foi construída uma definitiva, Kyoto. Embora essas mudanças custassem caro ao estado, foram ruinosas para a aristocracia que em poucas décadas teve de pagar sucessivos palácios. Por coincidência, a morte por conspiração ou velhice de vários elementos seniores da nobreza e menoridade dos seus sucessores, garantiu ao imperador um controle dos assuntos de estado como nunca sucedera. Apontando governadores locais a seu bel-prazer, Kammu e os seus sucessores imediatos tinham um razoável nível de controle, podendo mesmo organizar expedições contra os ainu (ou emishi, um povo aborígene) que controlavam ainda o nordeste do Japão. No entanto, vários elementos minaram esse poder. Os gastos na capital e nas expedições eram muito elevados sem trazer retornos (os ainus eram uma povo muito primitivo). Outro problema foi o sustento da família imperial: cada membro tinha direito a receber alojamentos, uma generosa pensão e criados (sabendo que vigorava a poligamia e que vários imperadores irmãos subiam ao trono sucessivamente abdicando pouco depois em favor dos parentes próximos, vemos a multiplicação que isso gerava). Um imperador decidiu limitar o direito a ser príncipe/princesa até descendentes de 5ª geração, reduzindo mais de 500 membros ao estatuto de nobres (que se tornaram taira ou minamoto), mas mesmo assim o número era enorme. E finalmente, a perca de controlo das terras em favor da formação de uma nobreza terratenente: os taira e minamoto para arranjarem colocação casavam-se com nobres locais, obtinham cargos de administração provincial, ou partiam à conquista de territórios com os seus efectivos. O poder central via assim perder lentamente o controlo do país.
Progressivamente, na própria corte os clãs apoderaram-se do exercício de funções, sendo de todos o mais poderoso, o clã Fujiwara do norte (existiam mais 3 clãs Fujiwara aparentados entre si). Este, graças a uma rede de clientelas, menoridades imperiais e casamento de filhas suas com os imperadores conseguiram tornar-se os senhores da corte.
.
O templo de cima localizado em Kyoto, e dedicado aos imperadores Kammu e Meiji, é uma réplica em menor escala de um palácio imperial do séc VIII.
Progressivamente, na própria corte os clãs apoderaram-se do exercício de funções, sendo de todos o mais poderoso, o clã Fujiwara do norte (existiam mais 3 clãs Fujiwara aparentados entre si). Este, graças a uma rede de clientelas, menoridades imperiais e casamento de filhas suas com os imperadores conseguiram tornar-se os senhores da corte.
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O templo de cima localizado em Kyoto, e dedicado aos imperadores Kammu e Meiji, é uma réplica em menor escala de um palácio imperial do séc VIII.
quarta-feira, junho 15, 2005
Botticelli
Um quadro agora de Botticelli, uma Madona como pedida...
Entretanto, ninguém votou ainda em quadros renascentistas extra-itália.
Entretanto, ninguém votou ainda em quadros renascentistas extra-itália.
segunda-feira, junho 13, 2005
Como se tornar num deus involuntariamente
Nos finais do séc. IX, em pleno período “Heian” um ex-imperador que governava em nome do imperador (que era uma criança), decidiu para suplantar a influência do clã Fujiwara, promover um funcionário de origens modestas (leia-se: de um clã de importância secundária) de nome Michizune para servir de contra-poder. Michizune fora governador nas províncias e conhecia bem os seus problemas. Com o apoio de outros semelhantes a si, tentou efectuar reformas que permitissem evitar a perda de autoridade e rendimentos que o estado estava a sofrer devido à apropriação da autoridade do estado pelos governadores e senhores locais. Mas os clãs da corte opuseram-se, e o chefe do clã Fujiwara conseguiu convencer o imperador quando este chegou à maioridade, que Michizune pretendia destroná-lo em favor de outro parente. Michizune foi então exilado para a província (e o ex-imperador seu protector colocado num mosteiro). Mas a história seria caprichosa. Michizune que já era idoso, morreu pouco depois e por coincidência, o mau tempo e tempestades assolaram o Japão. Os adivinhos foram peremptórios: o fantasma do defunto estava a vingar-se. Foram efectuados sacrifícios e cerimónias de expiação e algum tempo depois o tempo melhorou. Começou-se a associar o nome de Michizune a um deus dos raios, e (não percebo bem como) a protector dos letrados; ainda actualmente ele tem um culto no Japão, com templos.
Algumas das suas reformas seriam implementadas um século depois, mas por essa altura já era tarde demais para fazer frente aos senhores feudais e os Fujiwara tinham um poder reduzido à corte; no séc. XII começaria o conflito Taira/Minamoto. Vou assim começar uma série de posts sobre o período Heian.
Algumas das suas reformas seriam implementadas um século depois, mas por essa altura já era tarde demais para fazer frente aos senhores feudais e os Fujiwara tinham um poder reduzido à corte; no séc. XII começaria o conflito Taira/Minamoto. Vou assim começar uma série de posts sobre o período Heian.
segunda-feira, junho 06, 2005
quarta-feira, junho 01, 2005
Concurso de arte
Bem, posso dizer que no concurso de maio todos foram vencedores (literalmente), já que houve 5 votos para 5 autores diferentes. Vou colocar durante o mês quadros desses artistas. E seguindo a ordem de votação, começo com Rafael.
Entretanto para o mês de Junho o tema será pintura renascentista extra Itália. Portanto vale tudo: flamengos, ibéricos, ingleses.
Entretanto para o mês de Junho o tema será pintura renascentista extra Itália. Portanto vale tudo: flamengos, ibéricos, ingleses.
terça-feira, maio 31, 2005
Lixo
Embora esta estória não esteja relacionada com História, é tão tenebrosa que acho que merece ser contada. Uma pessoa minha amiga conhece uma jovem (que vamos chamar “A”) licenciada e que está a efectuar um mestrado que se queixou de recentemente a avó estar a ficar velha. “A”, não estava com os seus pais para “aturar a velha” (palavras textuais) e então tiraram-na da sua casa onde norava sozinha (note-se, a casa da “velha”) e colocaram-na num lar (e ficaram com a casa). Qual foi o espanto de “A” ao descobrir que a casa da “velha” estava repleta de livros aos milhares (fora professora), velhos (alguns com mais de 100 anos). Tiveram um enorme trabalho para deitar tudo ao lixo (os livros pesam muito). Nem sequer teve o lampejo de tentar vender os livros num alfarrabista ou doa-los: eram apenas livros velhos. Só não devem ter deitado a avó para o lixo porque se calhar dava muito nas vistas e a vizinhança era capaz de reparar.
Correndo o risco de parecer maldoso, espero duas coisas: que a pobre senhora tenha Alzheimer para não se ter apercebido do que se passou ao despejarem-na num lar e privarem-na dos livros que imagino lhe fossem queridos e que à sua neta (A”) lhe façam exactamente o mesmo só que estando lúcida. O pior, é que como me disse a minha colega, esta gente costuma ter sorte.
Quando amigos meus se queixam de que os políticos e pessoas de outras áreas têm uma indiferença pelas coisas da cultura, acho isso coisa de pouco monta por comparação a isto.
Correndo o risco de parecer maldoso, espero duas coisas: que a pobre senhora tenha Alzheimer para não se ter apercebido do que se passou ao despejarem-na num lar e privarem-na dos livros que imagino lhe fossem queridos e que à sua neta (A”) lhe façam exactamente o mesmo só que estando lúcida. O pior, é que como me disse a minha colega, esta gente costuma ter sorte.
Quando amigos meus se queixam de que os políticos e pessoas de outras áreas têm uma indiferença pelas coisas da cultura, acho isso coisa de pouco monta por comparação a isto.
sexta-feira, maio 27, 2005
Presos
Numa das últimas batalhas dos persas sassânidas contra os invasores árabes, a infantaria persa conscrita estava tão desmotivada que os soldados tiveram de ser presos com cadeias nas pernas para não fugirem; consegui-se um belo massacre (mas ninguém estava muito preocupado com os camponeses de qualquer modo).
quinta-feira, maio 19, 2005
O primeiro europeu
quarta-feira, maio 18, 2005
Uma citação
"Deus não pode alterar o passado. Foi por isso que Ele criou tantos historiadores."
Samuel Butler
Samuel Butler
terça-feira, maio 17, 2005
A História Secreta
Recentemente li a famosa história secreta de Procopio de Cesareia. É um livro absolutamente virolento. Justiniano é descrito como rapace, sempre a arranjar esquemas para extorquir dinheiro aos contribuintes ou a qualquer desgraçado que caísse em desgraça; quem se visse apenas despojado dos bens e exilado podia considerar-se com sorte. Nem a amizade servia de algo, por tão desconfiado que era. Só uma pessoa tinha influência sobre ele: Teodora. Esta é ainda descrita com cores mais carregadas. Ex prostituta, é apresentada como intriguista, apoiando o marido nos esquemas para eliminar qualquer pessoa vista como ameaça. Nem o general Belisário (patrão do próprio Procópio) escapa: é visto como facilmente manipulável pela mulher (outra intrigante que o engana com todos os homens que pode), cobarde, sempre a tentar agradar aos seus senhores (dificilmente conciliável com a imagem que temos do vencedor dos vândalos e ostrogodos).
O que é mais fascinante, é que nas histórias oficiais que escreveu, Procópio cobre de elogios as essas mesmas pessoas, com os seus actos e virtudes. Não podendo escrever uma obra fiel à verdade, escreveu duas, uma com as virtudes, e outra com o lado negro das personagens.
sexta-feira, maio 13, 2005
Finalmente!
Como parece que já sei colocar imagens (já era tempo!), aqui está um dos meus quadros favoritos (que obviamente em nada está relacionado com o passatempo).
quinta-feira, maio 12, 2005
Concurso de arte
Adaptando uma ideia do blog http://herodoto4.blogspot.com/, decidi fazer um concurso: cada mês os leitores deverão votar no seu pintor favorito de um determinado estilo artístico. Depois de se saber o vencedor, serão expostos alguns quadros do mais votado durante o mês seguinte.
O primeiro estilo será o renascimento italiano; as balizas são desde meados do séc. XV (com Mantegna, Fra Angelico o que exclui Giotto que é muito anterior), até meados do séc. XVI (o maneirismo fica para outra vez). Para votar só tem de anunciar a vossa preferência na nossa caixa de comentários (se bem que dizer algumas palavrinhas a justificar seria bonito) ou mandar-nos um mail para o nosso mail oficial. Na primeira semana de Junho será anunciado o pintor vencedor. Qualquer dúvida é só perguntar.
O primeiro estilo será o renascimento italiano; as balizas são desde meados do séc. XV (com Mantegna, Fra Angelico o que exclui Giotto que é muito anterior), até meados do séc. XVI (o maneirismo fica para outra vez). Para votar só tem de anunciar a vossa preferência na nossa caixa de comentários (se bem que dizer algumas palavrinhas a justificar seria bonito) ou mandar-nos um mail para o nosso mail oficial. Na primeira semana de Junho será anunciado o pintor vencedor. Qualquer dúvida é só perguntar.
quarta-feira, maio 11, 2005
Um rosto do passado
Este seria, segundo uma reconstrução informática feita a partir da digitalização do crânio da múmia, o rosto do famoso Tutankhamon.
Não sei se haverá alguns elementos fantasiosos nesta reconstituição ou se ela terá alguma relevância histórica, mas é interessante poder ver os rostos das figuras do passado.
terça-feira, maio 10, 2005
Jogo musical-X
A música Pop é de todos os géneros o mais difícil de definir e limitar, de tão abrangente que é. Mesmo tentar limitar cronologicamente é difícil. Música que seja ligeira (ou seja menos complexa) e popular (eufemismo para música que agrade as massas), embora muitas vezes a música não seja nem simples ou popular. Também o género pop tem o hábito de ser muito facilmente influenciável por outros géneros que momentaneamente estejam em moda (do jazz à salsa), o que a torna difícil de diferenciar. Em Itália existem árias de ópera que correspondem a essa descrição. Na primeira metade do século XX, cantores como Maurice Chevalier ou Marlene Dietrich também cantariam música ligeira muito popular. Esse género de música ligeira iria fluir por toda a Europa (em Portugal tivemos o nacional cançonetismo que ainda se ouve nalgumas rádios regionais), até se estancar com a nova música anglo-saxónica. Os norte-americanos tinham transformado a venda da música numa indústria em grande escala, com companhias que tratavam da venda de discos, concertos, promoção a um nível que na Europa nem se imaginava. Depois da II Guerra Mundial, um novo género musical influenciaria muito o pop: o rock & roll. Nas décadas de 70 e 80, os espectáculos começam a tornar-se mais sofisticados: a mera presença do actuante (por muito exuberante que fosse) já não chega. Luzes, roupas, bailarinos, efeitos sonoros intervém quer nos espectaculos quer nos videos que se tornam nos anos 80 parte fulcral da música (creio que o clipp que teve mais impacto deve ter sido "Thriller" de Michael Jackson). Até à actualidade será o género musical dominante, dado que tem uma quase omnipresença nas rádios, tabelas e televisões; gerações inteiras de adolescentes não conhecem praticamente outro género musical. Mas entre Paul Anka (1957-Diana), Jethro Tull (1969-stand up), até Madona e Britney Spear que longo caminho.
Como escolha, coloco o tema "moonlight shadow" de Mike Oldfield: não só pelo tema em sí, mas também por todo o cuidado que se colocou na produção dos "sucedâneos".
Como escolha, coloco o tema "moonlight shadow" de Mike Oldfield: não só pelo tema em sí, mas também por todo o cuidado que se colocou na produção dos "sucedâneos".
sexta-feira, maio 06, 2005
Como fundar uma idade de ouro depois de subir bajulando os governantes e denunciado os amigos
Na corte de Bizâncio, um jovem de humilde condição chamado Basílio que era pajem/ajudante (o termo em grego era outro), devido à sua força, e capacidade de domar cavalos, conseguiu cair nas boas graças de senhores poderosos. Subindo de protectores (caindo normalmente cada um deles depois em desgraça), acabou por se tornar amigo do Basileo Miguel III e conseguiu que este o nomeasse co-imperador. Um belo dia, Basílio mais alguns amigos e parentes decidiram assassinar o legítimo soberano. Depois de uma festa em que este se embebedou até cair e se foi deitar, eliminaram vários criados que estavam com ele, cortaram-lhe as mãos (para o impedir de se defender) e discutiram o que haveriam de fazer: mata-lo ou furar-lhe os olhos e interna-lo nummosteiro. O imperador que já estava bem acordado pediu misericórdia, mas os conspiradores concluíram que ele era perigoso demais e mataram-no. Apesar de todos os pormenores sórdidos, o restabelecimento do império, e a fundação de uma dinastia (a dos macedónios embora provavelmente Basílio fosse Arménio) que levou Bizâncio ao apogeu apagaram esta mancha.
Como nota final, sabemos actualmente que muitos pormenores da sua história são provavelmente falsos (como a história de que era pobre e muitos dos seus comportamentos).
quarta-feira, maio 04, 2005
Ruínas
Albert Speer o ministro do armamento de Hitler, contou nas suas memórias o seguinte episódio. Ainda era apenas arquitecto do III Reich, quando o seu patrono lhe pediu planos de edifícios. Speer fez-lhe a vontade, dando-lhe um bónus: os planos estavam feitos de maneira a que um dia quando o Reich caísse e os edifícios estivessem em ruínas, manteriam um ar de nobreza, tal como as ruínas de edifícios gregos e romanos (assim mostravam os desenhos). A ideia provocou escândalo nos altos dignitários: a ideia do regime nazi cair era considerada uma heresia (deveria durar uns 1000 anos). Mas Hitler ficou encantado com a ideia: tudo o que envolvia a destruição atraía-o. A Alemanha nazi meia dúzia de anos depois estava em ruínas, e dos edifícios de Speer nem isso restaria.
segunda-feira, maio 02, 2005
Quem eram os macedónios?
Esta é uma questão que ainda hoje levanta dúvidas (e questões políticas actuais só pioram). Na antiguidade, as opiniões dividiam-se: se por um lado, não lhes era permitido a participação nos jogos olímpicos, e eram mesmo classificados de povo bárbaro (dado que falavam uma língua incompreensível para os gregos), por outro, numerosos autores gregos consideram-nos se não gregos de pleno direito, pelo menos aparentados (e ainda mais à aristocracia).
Do ponto de vista linguístico, as coisas não são muito mais claras. O que sobreviveu da língua foram provérbios do final do império romano e pouco mais (a aristocracia falava e escrevia em grego), o que permite estudar algum vocabulário; ora grande parte deste é muito semelhante ao grego (o que se pode justificar pela crescente helenização), embora existam diferenças que o permitem comparar com outras línguas. Existem autores que consideram que é um dialecto grego que devido ao seu isolamento, afastamento e influência de outras línguas (principalmente o trácio e ilírio,) lhe deram um carácter incompreensível; outros dizem que seria uma língua separada própria, embora aparentada ao grego.
Ou seja, actualmente não se tem a certeza do que eram.
Do ponto de vista linguístico, as coisas não são muito mais claras. O que sobreviveu da língua foram provérbios do final do império romano e pouco mais (a aristocracia falava e escrevia em grego), o que permite estudar algum vocabulário; ora grande parte deste é muito semelhante ao grego (o que se pode justificar pela crescente helenização), embora existam diferenças que o permitem comparar com outras línguas. Existem autores que consideram que é um dialecto grego que devido ao seu isolamento, afastamento e influência de outras línguas (principalmente o trácio e ilírio,) lhe deram um carácter incompreensível; outros dizem que seria uma língua separada própria, embora aparentada ao grego.
Ou seja, actualmente não se tem a certeza do que eram.
quarta-feira, abril 27, 2005
Latim fácil
Para quem está interessado em aprender latim mas não tem tempo de frequentar aulas ou comprar manuais, tem a excelente solução de ir à net. Existem aí "cursos" de aprendizagem de graça (mas é obrigatório saber inglês).
Aqui estão alguns links.
http://www.cherryh.com/www/latin_language.htm
Este é mesmo para pessoas que não tenham grandes noções de gramática, explicando intuitivamente como se estivessemos a ajudar um amigo estrangeiro.
http://www.learnlatin.tk/
Este baseia-se mais em textos e a sua compreensão.
http://www.arts.cuhk.edu.hk/Lexis/Wheelock-Latin/
Como se estivessemos a aprender na faculdade, com as declinações, verbos, e regras todas (embora um pouco árido).
http://www.hhhh.org/perseant/libellus/aides/allgre/
Semelhante ao anterior.
http://chat.yle.fi/yleradio1/latini/index.php
Quando acharem que o latim não tem mais segredos (desprezando César e Catulo que são para amadores), podem fazer o teste final que é inscreverem-se neste forum e falarem e escreverem em latim.
Aqui estão alguns links.
http://www.cherryh.com/www/latin_language.htm
Este é mesmo para pessoas que não tenham grandes noções de gramática, explicando intuitivamente como se estivessemos a ajudar um amigo estrangeiro.
http://www.learnlatin.tk/
Este baseia-se mais em textos e a sua compreensão.
http://www.arts.cuhk.edu.hk/Lexis/Wheelock-Latin/
Como se estivessemos a aprender na faculdade, com as declinações, verbos, e regras todas (embora um pouco árido).
http://www.hhhh.org/perseant/libellus/aides/allgre/
Semelhante ao anterior.
http://chat.yle.fi/yleradio1/latini/index.php
Quando acharem que o latim não tem mais segredos (desprezando César e Catulo que são para amadores), podem fazer o teste final que é inscreverem-se neste forum e falarem e escreverem em latim.
terça-feira, abril 19, 2005
Jogo musical-IX
O género musical de hoje será o rock.
Especialistas apresentam Alan Freed como o inventor da expressão “rock & roll” ao designar um novo tipo de música inventada por negros. Este surge logo em princípios dos anos 50 tendo por base diferentes géneros como os blues, ragtimes, jazz, só para falar dos mais conhecidos. Cantado a princípio por negros, só adquiriu legitimidade quando cantado por brancos (embora diversos negros tivessem sucesso). Bill Halley e os comets (rock around the clock), Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, the Platters, são nomes que se notabilizaram.
É referido habitualmente que o rock tinha um evidente carácter sexual que atraiu os jovens e escandalizou os seus pais, dado o puritanismo da sociedade da época (creio que de facto, boa parte da música profana desde a Idade Média tem forte cariz sexual); no entanto do ponto de vista político era muito mais neutro se o compararmos com o dos anos 60 e 70. À nova geração de 60 (Bob Dylan, Janis Joplin) muito mais interventiva, junta-se uma vaga vinda do outro lado do oceano: os Beatles, os Rolling Stones. Simultanemante, dá-se uma alteração da moralidade e da forma de pensar da época, nomeadamente para a emancipação das mulheres e minorias étnicas. Se o rock como género (embora evoluindo) se manteve até aos dias de hoje assegurando uma boa longevidade, assistiu-se à criação de vários estilos musicais novos que sobrevivem em nichos com maior ou menor sucesso (heavy metal) ou depois desapareceram depois de um breve sucesso (grunge).
Escolher uma música? Roadhouse blues dos Doors. Ainda tem um toque de blues das suas origens, e tem toda a energia que popularizou o estilo. Mas claro que é apenas uma escolha pessoal
Especialistas apresentam Alan Freed como o inventor da expressão “rock & roll” ao designar um novo tipo de música inventada por negros. Este surge logo em princípios dos anos 50 tendo por base diferentes géneros como os blues, ragtimes, jazz, só para falar dos mais conhecidos. Cantado a princípio por negros, só adquiriu legitimidade quando cantado por brancos (embora diversos negros tivessem sucesso). Bill Halley e os comets (rock around the clock), Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, the Platters, são nomes que se notabilizaram.
É referido habitualmente que o rock tinha um evidente carácter sexual que atraiu os jovens e escandalizou os seus pais, dado o puritanismo da sociedade da época (creio que de facto, boa parte da música profana desde a Idade Média tem forte cariz sexual); no entanto do ponto de vista político era muito mais neutro se o compararmos com o dos anos 60 e 70. À nova geração de 60 (Bob Dylan, Janis Joplin) muito mais interventiva, junta-se uma vaga vinda do outro lado do oceano: os Beatles, os Rolling Stones. Simultanemante, dá-se uma alteração da moralidade e da forma de pensar da época, nomeadamente para a emancipação das mulheres e minorias étnicas. Se o rock como género (embora evoluindo) se manteve até aos dias de hoje assegurando uma boa longevidade, assistiu-se à criação de vários estilos musicais novos que sobrevivem em nichos com maior ou menor sucesso (heavy metal) ou depois desapareceram depois de um breve sucesso (grunge).
Escolher uma música? Roadhouse blues dos Doors. Ainda tem um toque de blues das suas origens, e tem toda a energia que popularizou o estilo. Mas claro que é apenas uma escolha pessoal
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