sexta-feira, novembro 14, 2003

Derrotas coloniais-I

Não tenho podido escrever nestes dias mas tenho uma boa desculpa: uma crise de gastrite que me deixou (literalmente) de rastos. Aproveitei a minha convalescença para ler um livro que me despertou a atenção “Os holandeses no Brasil e na Costa Africana : Angola, Kongo e São Tomé (1600-1650)” por Klaas Ratelband, editado recentemente entre nós. De um historiador holandês completamente desconhecido entre nós, parece-me fundamental para quem se interessar sobre a problemática da manutenção do império português no séc. XVII, ao debruçar-se do porquê do falhanço do estabelecimento de um império holandês duradouro nesses territórios apesar das condições aparentemente tão favoráveis.
Vou poupar os pormenores fastidiosos e a cronologia, limitando-me a um breve resumo: desses acontecimentos e as conclusões que é o que interessa: com a união ibérica em 1580, o bom entendimento entre Portugal e as Províncias Unidas que estava em guerra com a Espanha terminou, e os territórios lusos passaram a ser cobiçados. Com a fundação da companhia das Índias Ocidentais tentou-se não só pilhar os barcos e estabelecimentos portugueses, mas também tentar criar um comércio alternativo com os povos indígenas (tratando-os bem e pagando preços mais razoáveis), e estabelecer feitoria ou mesmo conquistar territórios aos portugueses; estes deviam ser plenamente integrados no novo estado desde que prometessem não revoltarem, permitindo assim que a economia continuasse a funcionar sem as interrupções, que a substituição e confisco dos bens inevitavelmente traria. As décadas de 30 e 40 iriam ver a conquista de Luanda, São Tomé, Pernambuco, sem que os portugueses parecessem conseguir travar a maré invasora. Um acordo assinado depois, iria legitimar essas conquistas. No entanto, os portugueses conseguiram (na maioria das vezes sem receber qualquer apoio da metrópole) recuperar esses territórios (outros como S. Jorge na Mina ficaram definitivamente perdidos). Como sucedeu isso? Normalmente os “Holandeses” são apresentados como muito mais eficientes que os portugueses nos seus métodos comerciais, dominando a corrupção e incompetência do lado dos fidalgos portugueses, passando metade do tempo à guerra com Jesuítas pela conquista do poder, só lhes restando uma imensa coragem que teria permitido nalgumas vitórias providenciais recuperar tudo. A realidade é bem mais complicada.

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