segunda-feira, novembro 20, 2006
Queixas
Quando no séc. XVII os Tokugawa no Japão restabeleceram a ordem no país, mantiveram a ordem feudal. Ora se uma aldeia (ou conjunto de aldeias) considerasse que estava a ser mal gerida (vulgo, o senhor lançava tantos impostos que eles estavam a morrer à fome, sem haver razões válidas, ou desbaratava o dinheiro dos impostos), ela poderia apelar ao xogun (supremo governante, dado que o imperador era meramente simbólico). Se se considerasse que eles não tinham razão, estariam à merce do seu senhor que os castigaria. Se o xogun lhes desse razão, este interviria, obrigando o senhor a reduzir as taxas, e provocando-lhe uma enorme humilhação (dado que era assumir que era incompetente, o que no Japão é terrível). Até agora parece tudo normal; só que por uma questão de principio, os enviados dos camponeses seriam executados no final de tudo por terem ousado reclamar contra a ordem estabelecida (mesmo que lhes fosse dado razão, e o seu senhor castigado). Deste modo assegurava-se que apenas em situação extrema os camponeses reclamassem.
terça-feira, novembro 07, 2006
Pedro Hispano
Foi o nosso único Papa (João XXI de 1276-1277), e é sobretudo conhecido por lhe ter caído um tecto em cima. Os seus primeiros estudos foram efectuados em Portugal, mas depois partiu para França para prosseguir os estudos universitários (ainda não existia a Universidade de Lisboa/Coimbra). Escreveu imensos livros (que resumiam outros), sendo o mais famoso um resumo da lógica aristotélica (basicamente procurava através de mnemónicas e outros métodos facilitar esse estudo) que seria usado durante séculos; não era assim propriamente um pensador mas mais um divulgador. No entanto, na área da medicina foi um pouco mais arrojado, pretendendo que se efectuasse um estudo prático.
Eleito Papa, dedicou-se a tentar uma reconciliação com Bizâncio, e lançar uma nova cruzada; com a sua morte ficou tudo na mesma. Existe um excelente resumo da sua vida (o que é adequado afinal), numa obra de António José Saraiva “O crepúsculo da Idade Média em Portugal”.
Eleito Papa, dedicou-se a tentar uma reconciliação com Bizâncio, e lançar uma nova cruzada; com a sua morte ficou tudo na mesma. Existe um excelente resumo da sua vida (o que é adequado afinal), numa obra de António José Saraiva “O crepúsculo da Idade Média em Portugal”.
sexta-feira, novembro 03, 2006
O fim dos carolíngios
O problema das partilhas foi a origem de tudo. Cada vez que um soberano morria, dividia o seu território em partes mais ou menos iguais pelos filhos. A principio tinham sido criados 3 reinos (dos quais um tinha a dignidade imperial), e se esses reinos se mantiveram, os reis atribuíam a dignidade de rei (ou imperador se fosse o caso) a um dos filhos, mas dividiam o território por todos os filhos, mesmo que bastardos. Isso significava uma fragmentação dos territórios outrora enormes. Como os diversos soberanos entravam em guerra permanente, tinham de comprar o apoio dos nobres tendo de conceder territórios pessoais (isso não se passara com os primeiros carolíngios que estando em expansão atribuíam parte do território conquistado e ficavam com outra parte), já de si reduzido ou concedendo-lhes maiores privilégios. Isto porque os nobres tinham os seus feudos espalhados pelos reinos o que significava que teriam de servir os diversos soberanos ao mesmo tempo e a fidelidade era comprada por quem pagava mais. Ao fim de algumas gerações (e apesar de algumas guerras bem sucedidas ou a morte de parentes com grandes feudos, que permitia uma leve concentração de territórios) de fragmentação, aliados aos problemas externos a que não davam resposta (por estarem muito ocupados a combater-se), famílias que não pertenciam à dinastia (ou pelo menos não tinham o nome) começaram a tentar usurpar as coroas; mesmo as assembleias de nobres acabaram por atribuir os tronos vacantes a outros dinastas.
quinta-feira, novembro 02, 2006
A mulher do Baixo-Império à alta idade média-II
As invasões bárbaras modificaram este panorama. Os vários povos germânicos assim que puderam compilaram códigos de leis, e dada a escassez das fontes, temos de utiliza-las. Estes calculavam o valor de uma pessoa, conforme uma série de critérios: estatuto social, idade, virgindade no caso das mulheres. Um homem que matasse uma idosa, pagava uma multa pequena à família, um pouco maior se fosse uma criança, e uma pequena fortuna se fosse em idade núbil. Se violasse uma mulher virgem (leia-se, a viver em casa dos pais) teria de casar com ela e pagar uma importante quantia aos pais (sendo castrado se não tivesse os recursos). A mulher era assim vista como propriedade da família (primeiro do pai, depois do marido). Ora se durante os primeiros séculos, estes reinos bárbaros utilizavam o divórcio sem grandes problemas, a Igreja foi progressivamente impondo a ideia da indissolubilidade do matrimónio. Nada mais fácil de resolver: no caso de uma mulher idosa, quem tivesse um mínimo de bens, só tinha de matar a mulher e pagar a multa que não era grande coisa. Para colmatar isso, a Igreja criou pesadas penas espirituais para expiação desse pecado (jejuns e penitências prolongadas durante anos), de modo a não se tornar atractivo esse método. Com o tempo (e a progressiva cristianização da sociedade por volta do séc. X), acabou por conseguir banir o divórcio de forma legal. No entanto, mediante umas contorções, este sobreviveu como um privilégio dos membros da realeza, embora com outra designação, o de anulação, o que significa que o casamento tinha um impeditivo à priori que o tornava nulo (como o parentesco próximo), embora na esmagadora maioria das vezes, o motivo real era político (conhecendo as pessoas já anteriormente esse parentesco, estou a falar de parentesco em 5 ou 6 grau). Durante estes séculos, vemos diversas mulheres que assumiram um papel importante: a mulher de Clóvis para a sua conversão, Fredegonda e Brunhilda na direcção dos respectivos reinos francos, tendo os maridos, filhos e netos na sombra, Amalasunth no reino Ostrogodo. Mas isso nada nos diz sobre as condições das mulheres comuns. A Igreja por um lado, tinha uma visão muito negativa da mulher (via-a como a encarnação de Eva, fonte de tentação e pecado, estando ainda longe dos tempos do culto Mariano e de tudo o que isso implicou), mas a estrita ortodoxia nunca lhe negou a existência da alma, ou a possibilidade de salvação juntamente com o homem. E embora desvalorizando o sexo e negando-lhe valor por sí (servia unicamente para a baixa tarefa da reprodução e nunca para ter prazer), legitimou o sexo dentro do contexto do casamento (contra certas tendências que o pretendiam ver como pecado em qualquer ocasião). Mas como já disse, toda essa visão da mulher afectava unicamente os teólogos, dado que o resto da humanidade continuava a viver a sua vida tranquila (e a bem dizer, boa parte do resto do clero também).
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