quarta-feira, março 29, 2006

Cleómenes

Quando li coisas sobre Cleómenes, deparei-me com esta história que achei hilariante. Cleómenes amava profundamente a mulher (afinal, estava casado com ela desde criança e tinham-se dado bem, apesar de ser um casamento de conveniência). Quando ela morreu ao fim de 20 anos de casamento (ele devia ter uns 30 anos, ela um pouco mais), ele sofreu um grande desgosto, mas tendo sido educado por um estóico, tratou de guardar o desgosto apenas para os seus próximos, não o mostrando em público. E tratou de arranjar uma amante e um amante.

terça-feira, março 28, 2006

Ajax

Via o blog o insurgente, vi a notícia de que tinha sido descoberto o palácio de Ajax. Ok, descobriram um palácio micénico que corresponde à datação correcta, mas atendendo a que estamos a falar de um heroi mítico que combateu numa guerra que provavelmente nunca se deu, descrito num poema séculos posteriores e que descreve um sociedade que não é a micénica mas a do período posterior (a chamada idade das trevas gregas), parece-me arriscado fazer esse tipo de apresentação (mesmo que venda bem).

segunda-feira, março 27, 2006

Shi Huang Di

Ontem vi um filme chamado "Herói" que deu na televisão. O filme era (na minha opinião) aborrecido mas isso é uma questão de gosto. A ideia de apresentar várias versões do que sucedeu (muito parecido com o Roshamon) prolongou desnecessariamente o filme (enquanto que no filme de Akira Kurosawa dava-lhe real interesse) e as lutas com as pessoas a voar (estilo manga), tiram-lhe qualquer tipo de credibilidade.
Bem, mas vou falar do rei que aparece no filme: Shi Huang, o primeiro imperador da China.
Shi, pertencia ao reino Quin, um dos numerosos reinos chineses. Depois de 500 anos de lutas, com a subida de Shi, as coisas modificaram-se: subindo ao trono em 247 AC, conseguiu numa vintena de anos conquistar os restantes reinos. Proclamou-se o equivalente a imperador em 221 AC depois da capitulação do último reino e começou a trabalhar para a unificação cultural, uma vez efectuada a política. Uniformizou pesos e medidas, a escrita, eliminou os intelectuais que se opunham sí (a bem dizer, qualquer pessoa que ele imaginasse que não o aprovasse), ordenou a destruição de todos os livros que considerasse que nefastos. Mas ficou mais conhecido por duas obras: a grande muralha que protegeria a China dos povos nómadas (a actual muralha, não é a que ele edificou, já que ela foi abandonada, recuperada e alargada em diferentes troços por várias vezes) e construiu um imenso mausoléu com figuras de terracota (costuma aparecer em programas da national geographic e do canal História). Tendo um medo paranóico da morte, acabou por falecer numa viagem em busca da imortalidade. O seu filho não conseguiu aguentar o império, e ao fim de um par de anos, a dinastia terminou, recomeçando as confusões.
Foi um soberano duro, impiedoso, que espremeu a população, que não admitia qualquer tipo de oposição. Mas acabou (por um breve tempo) com as guerras que devastavam a China, e as dinastias que o seguiriam retomariam muitas das suas medidas (embora de forma mais suave).
Uma nota pessoal: há uns anos atrás, o seu nome era ocidentalizado como Shi Huang Ti, mas agora é apresentado como Qui Shi Huang, que supostamente é mais fiel ao seu nome.

quinta-feira, março 23, 2006

Cleómenes

Alguns anos depois, o rei Leónidas morreu e sucedeu-lhe o filho Cleómenes (casado com a viúva de Agis). Ora sendo este ainda criança quando casou, a mulher passou os primeiros anos a contar-lhe os feitos do seu falecido marido. Chegado à idade adulta, Cleómenes decidiu aplicar o programa de Agis. Para evitar ter um destino semelhante, decidiu fazer um golpe (Agis tivera sempre a preocupação de agir dentro da lei e evitar atacar quem quer que fosse e a sua execução sem julgamento foi ilegal), executando os éforos e banindo um número de cidadãos que se poderia opor a si. Distribuiu as terras, e criou cerca de 4000 novos cidadãos. Reformou o velho exército hoplita, copiando a falange macedónica. Mas entrou em conflito com uma liga (a liga Acaia), que via com maus olhos o novo governo revolucionário a fortalecer a velha cidade odiada. Cleómenes infligiu-lhes várias derrotas sendo acolhido como libertador por várias populações que esperavam que as medidas que tinham sido aplicadas em Esparta, o seriam noutros locais. Aratos, o principal chefe da liga, acabou por ter de pedir ajuda ao seu até então maior inimigo, o rei da Macedónia. Este que fora expulso de boa parte da Grécia por Aratos, entrou imediatamente na Grécia e com um exército superior bem treinado, equipado e alimentado derrotou o exército de Cleómenes (a batalha foi bastante sangrenta, morrendo grande parte dos novos cidadãos). Cleómenes teve de fugir e refugiou-se no Egipto que lhe fornecera subsídios durante algum tempo. Mas aborrecido com as intrigas da corte e com a inacção tentou com uns companheiros uma revolta que correndo mal, levou ao suicídio colectivo.

terça-feira, março 21, 2006

Agis

Esparta depois das derrotas de Leuctros e Mantineia no séc. IV AC sofreu um total apagamento. Perdeu a liderança das cidades da península do Peloponeso que lhe dera um imenso poder. A diminuição de cidadãos por motivos demográficos que já vinha de trás) acelerou-se: no séc. VII Ac tinha cerca de 9000 cidadãos, no séc V AC cerca de 4000, um século depois eram menos de 2000. Em meados do séc. III AC, só restavam 700, dos quais só 100 eram proprietários (tendo os lotes de terras que tinham pertencido aos 9000 cerca de 500 anos antes). Ora nesse período, um jovem rei subiu ao trono, Agis. Este decidiu restabelecer o antigo poder da cidade, voltando (na teoria) a aplicar a antiga constituição espartana. No seu programa pretendia em primeiro lugar abolir as dívidas, depois redistribuir as terras por todos os cidadãos e a criação de novos cidadãos num total de 5000 (entre estrangeiros e periecos residentes na cidade); mais cerca de 15000 pessoas teriam direito a distribuição de terras. Só conseguiu implementar a 1ª reforma, pois sob o pretexto de que deveria aplicar uma reforma de cada vez, a segunda foi sendo adiada até acabar por ser assassinado por opositores às mudanças em 241 Ac, quando tinha 24 anos (Esparta tinha um regime com dois reis, e o líder da conspiração foi o outro rei juntamente com os éforos). O líder da conspiração era o rei Leónidas, que mandou assassinar também a mãe de Agis e a avó; sendo estas ricas proprietárias, tudo passou para a viúva de Agis (que já era rica) que foi obrigada a casar com o filho de Leónidas que era ainda criança. Mas o futuro reservava uma ironia.

quinta-feira, março 16, 2006

Amor e sangue

Há uns anos atrás vi um filme chamado amor e sangue. O realizador era o Paul Verhoen (realizador do robocop), mas o filme surpreendeu-me bastante.
O filme passa-se em 1500, sem uma localização exacta, mas dá-nos pistas para provavelmente ser em Itália. Um príncipe que foi expulso da sua cidade, está com um exército de mercenários a retomá-la. Assistimos ao cerco e ao saque. Às tantas o príncipe apercebe-se que os mercenários não lhe vão deixar grande coisa da cidade, e com uma guarda fiel, obriga os mercenários desorganizados a abandonar a cidade sem nada. Estes dispersam-se, mas um grupo decide vingar-se. Aprisionam com um golpe de sorte a noiva do filho do príncipe e depois de uma série de peripécias, os mercenários são massacrados, a noiva reencontra-se com o seu noivo e os nobres acabam bem.
O que me agradou neste filme, foi o facto de não haver “bons”. Todos são cúpidos, cruéis, traiçoeiros e corajosos ao extremo ou cobardes conforme as situações (o filme nesse aspecto parece do Sérgio Leone, para pior). O personagem principal (um dos chefes dos mercenários) não hesita em enganar os companheiros quando lhe interessa, inclusive a companheira que traz (eventualmente) o seu filho na barriga. O filho do príncipe embora a princípio mole, só se preocupando com os seus livros, quando tem a sua vida em jogo arranja a energias para se safar das situações. A sua noiva que ouviu demasiadas histórias de belos cavaleiros, balança-se para o lado que mais lhe convém.
Os cenários são tardo-medievais, e vemos exércitos renascentistas em toda a sua glória com os soldados, prostitutas e padres.
É um filme bastante forte, mas mais realista do que numerosas outras produções (de repente vê-me à cabeça Braveheart ou o Reino dos Céus).

terça-feira, março 07, 2006

O batalhão sagrado

Era uma unidade de elite da cidade de Tebas, constituída por 150 casais de homossexuais (ou seja, 300 homens). Teriam sido constituídos em princípios do séc. IV, participaram nas batalhas decisivas contra Esparta que derram a hegemonia à sua cidade (Leucra, Mantineia). Viram o seu fim em 338, contra os macedónios de Filipe II e Alexandre: aí, Atenas e Tebas durante muito tempo inimigas reconciliaram-se ao ver o perigo macedónio e jogaram não só a sua independência como a democracia como regime independente viável no contexto de grandes nações. Os génios militares dos príncipes macedónios levaram a melhor em Queroneia, no que foi uma das batalhas mais duras desse período. Primeiro foram os atenienses, depois os tebanos, os exércitos aliados fugiram do exército macedónio, tendo ficado unicamente o batalhão sagrado a resistir até ao fim. Apenas um reduzido número foi capturado, já feridos.

sexta-feira, março 03, 2006

Chorar pelos vivos?

Quando se deu a batalha de Leuctros (371 AC), entre Esparta e Tebas, aquela sofreu uma pesada derrota, perdendo 400 cidadão (para uma população de cidadãos no total de 1500); os éforos (magistrados que governavam a cidade), pediram às famílias dos mortos para não chorarem, dado que iria desmoralizar ainda mais a cidade. No dia seguinte, as famílias dos mortos saíram à rua alegres e bem vestidos, pois os seus mortos não tinham desonrado a cidade, enquanto que os familiares dos sobreviventes fizeram luto pela sua desonra: um espartano não deveria ser derrotado a menos que estivesse morto.