segunda-feira, maio 31, 2004

Perseguições

Li recentemente ums artigo sobre a ascensão dos nazis. São referidos alguns pontos importantes sobre o anti-semitismo, embora não propriamente originais.
Embora os nazis fossem claramente racistas e anti-semitas, para a maioria dos alemães (que variariam entre o não racistas e o moderadamente racistas em situação normal, tal como a restante população europeia da época), isso não seria um obstáculo para votar neles: era considerada uma componente secundária do seu programa (tirar o país da crise, dar uma liderança forte). Os ataques que efectuavam contra outros grupos (comunistas, sociais-democratas, sindicatos), em vez de serem vistos como desordens, eram pelo contrário a demonstração que alguém estava a restabelecer a ordem. Ora, enquanto que os ataques contra os adversários políticos, eram um meio para atingir um fim (aterrorizar e quebrar a oposição), a violência contra os judeus representava um “bónus”, para as S.A., que davam largas à sua fúria (vandalizando lojas e espancando pessoas) contra um povo visto como inimigo e em que tudo valia (dado que não existia uma ideia concreta do que se devia fazer com eles). Mais, ao subirem ao poder isso permitiu com a erradicação dos cargos e funções que os judeus ocupavam, que numerosos nazis ou simples alemães ocupassem esse lugares. A própria educação da sociedade alemã que apelava a uma obediência à autoridade e uma tácita aceitação de que certas pessoas são mais adequadas que outras ao governo, facilitava essa tarefa (embora a posição nazi fosse extrema e não aceitável pela maioria das pessoas- em situação normal). Assim, por oportunismo, comodismo ou ódio sincero, poucas pessoas estavam dispostas a discutir uma situação que se tornava própria do ambiente (curiosamente, o velho Hindemburg exigiu que os veteranos de guerra fossem livres das discriminações, o Kaiser no seu exílio protestou contra essa política, e o exército conseguiu proteger com um par de excepções todos os oficiais com sangue judeu que eram numerosos

terça-feira, maio 25, 2004

Jogo musical-V

Os princípios do séc. XX representam um corte com a música com a tradição musical europeia (é certo que autores como Wagner, Mussorgsky e Mahler já tinham empregue na sua linguagem musical, recursos extremamente inovadores), mas neste período procurou-se criar deliberadamente novas expressões. A música atonal, o dodecafonismo e a experiência utilizando um sem número de timbres e gamas de sons de forma original deram à música erudita um carácter fragmentário e claramente original, que nunca mais parou até à actualidade. Diversos nomes se salientaram: Schoenberg como iniciador, Alban Berg e Webern (mais recentemente com o serialismo e minimalismo e autores como Boulez, Cage e Reich para referir só os mais famosos). Se o autor passa a ter uma liberdade sem precedentes, é no entanto de notar que em grande parte essa nova música erudita não beneficiou com a divulgação feita pelos meios modernos de comunicação, devido à sua natureza muito experimental e afastada das sonoridades mais tradicionais a que o publico está habituado.
Uma obra? Microcosmos de Bela Bartok (1881-1845). Interessou-se pela música popular de leste (era Húngaro) que recolheu, compilou e utilizou como material de base para as suas próprias composições (apesar de ser considerado imaginativo, cheio de recursos, a sua sonoridade não me agrada minimamente, questão de gostos). Incorporando muitas das inovações do seu tempo, fez uma síntese com a música do passado.

quinta-feira, maio 13, 2004

A Paixão de Cristo

Este post deveria aparentemente pertencer ao Roma Antiga, mas dado que são dúvidas e reflexões minhas, coloco-o no tempore.
Vi recentemente um filme que foi polémico “A paixão de Cristo”. Vou discutir alguns erros ou incorrecções históricas que notei (não, não vou discutir o anti-semitismo, a crueldade, a suposta historicidade ou não dos acontecimentos ou outros elementos que foram debatidos há uns tempos atrás).
A primeira é inofensiva (por comparação com o que se discutiu) e quase passa despercebida: um oficial chama a Pilatos de Cônsul. É um erro algo grosseiro. Era o cargo mais prestigiado da república e como tal se mantinha no império; existiam 2 cônsules em Roma, um normalmente o imperador, e outro uma pessoa que tivesse cumprido o cursus honorum e o seu favor (de boas famílias). Terminado esse período, podia-se tornar procônsul (governador de uma província senatorial), o que não era o caso de Pilatos que era um legado (nomeado directamente pelo imperador e não pelo senado, sendo comandante das tropas locais e saído de uma família equestre). Ou seja, é um erro algo básico para quem teve tantos cuidados de reconstituição (bastava consultar um daqueles esquemas hierárquicos sobre a administração romana que se encontra numa história universal para evitar esse erro) do período.
O outro é uma questão de opinião: Pilatos a falar em aramaico? Em Itália aprendia-se latim como língua mãe (os outros dialectos e línguas como o celta, osco, etrusco e afins tinham desaparecido ou estavam em vias de extinção reduzidas às populações camponesas de zonas isoladas); quem tivesse pretensões a ser culto aprendia o grego que era a língua literária (e para cargos nas zona oriental do império dava jeito, dado ser a língua franca, tal como o inglês actualmente). Ora o aramaico era a língua usada pelas populações semitas do próximo oriente (palestina, síria), mas quem vivesse em zonas urbanas também acabava por aprender o grego que se espalhara com os reinos helenísticos; quais as probabilidades de um governador romano dar-se ao trabalho de aprender uma língua de gente que desprezaria como bárbara (aramaico), se bastava usar outra que seria em princípio compreendida (grego). Poderia quanto muito usar um intérprete; além de que os legados eram normalmente rotativos; estaria num período numa província, terminado o seu mandato iria para outra e dar-se ao trabalho de aprender a nova língua (digamos o celta, o púnico)? Dá-me ideia de que não estiveram foi para filmar numa terceira língua e ficaram-se pelas duas (que já era complicado suficiente para os actores).
Outra dúvida: no filme, Jesus fala com Pilatos em latim (que era completamente ignorado no oriente fora das casernas). Duvido muito que soubesse latim; poderia saber como pequeno artesão o grego, o que não era invulgar (e comunicar com judeus vindos da diáspora) e comunicar com Pilatos nessa língua, mas isto é apenas uma suposição.

terça-feira, maio 11, 2004

Viagens

Bem, voltei do meu périplo pelas beiras. Vou só fazer um breve resumo.
Estive em Viseu: passei pela Sé e Igreja da Misericórdia; o museu Grão Vasco estava fechado (abriu poucos dias depois de sair de lá, foi mesmo azar). Aproveitei para ver várias aldeias abandonadas (algumas recentemente, nos anos 80) e mete dó ver o interior do nosso país reduzir-se a algumas cidades que tudo concentram. Estive na Sé da Guarda, um edifício verdadeiramente imponente (românico), e andei a cirandar pela zona histórica (embora estivesse um frio de rachar). Fui a Sortelha, Mangualde, Gouveia, Celorico da Beira e numerosas outras povoações. A gastronomia é excelente, e fica-se com a ilusão de que cada vila e aldeia têm o seu castelo em ruínas (bem, eu sei, o que sucede é que foram povoações importante que pararam no tempo). Pois, ruínas. As igrejas são conservadas (dado que ainda são usadas para o culto), alguns dos solares vão-se mantendo como residências particulares ou estalagens, mas os castelos estão na maioria dos casos num estado lastimoso.

sábado, maio 01, 2004

711 - O Fim do Reino Visigodo (?)

É do conhecimento geral que o Reino Visigodo terminou com a derrota de Roderico ou Rodrigo na batalha de Guadalete. Mas segundo Juan António Cebrián, o último rei visigodo pode ter mantido uma resistência activa, que resultaria num estranho túmulo na antiga província da Lusitnia, mais precisamente nos arredores de Viseu, com a seguinte inscrição: Rodericus Rex.
Segundo o mesmo autor, a sua mulher, Egilona, morreu em 712, deixando uma filha de nome Egilón, que se converteu ao Islamismo com o nome de Umm `Asim e se casou com o governador do Al-Andalus, Abd Al Aziz. Desse casamento nasceu Ben Abd Al Aziz Omar ou Umar ibn Abd al-Aziz, que chegou a ser califa de Damasco entre 712 e 720.

Paradoxalmente, o neto do rei cristão visigodo tornou-se califa Omaída de Damasco.