quinta-feira, agosto 28, 2003
Saló- II
Uma vez libertado, Mussolini proclamou a república de Saló (nome de uma pequena cidade do norte). O novo regime pretendia seria um fascismo renovado, com uma segunda “revolução”, sem as cedências feitas à burguesia, aristocracia e igreja, como em 1922, procurando ser populista. Na realidade iria tornar-se um estado fantoche ao serviço dos alemães. A maior parte do exército italiano fora desmobilizado ou internado em campos de concentração pelos alemães com o armistício. Novas forças seriam recrutadas, assim como um depuramento do velho partido fascista, pretendendo-se apenas duros e fieis à causa.. Na realidade essas forças serviriam sobretudo para o policiamento contra os partisans e caça aos judeus e outros adversários, tornando-os aos olhos da população meros esbirros dos nazis, sendo a legalidade representada pelo governo de Badoglio (toda a oposição aceitara apoia-lo momentaneamente, desde conservadores católicos até comunistas). A maior parte da frota italiana conseguira desertar para o campo aliado. A aviação seria dividida, acabando os aviadores de Saló por ser integrados na força aérea alemã. Na infantaria alguns dos voluntários terminariam nas SS. Estando o controle do território nas mãos alemãs, podemos estabelecer o fim da república de Saló em dois acontecimentos diferentes: a rendição do Reich e a execução de Mussolini em Abril de 1945.
quarta-feira, agosto 27, 2003
Marte
Já que o planeta Marte está aí próximo, aproveito para falar um pouco deste deus. Pai dos gémeos fundadores de Roma, deus da Guerra, parece que foi na origem um deus ligado à terra. Várias das suas características foram “emprestadas” do Ares grego. O seu culto era prestado sobretudo a nível institucional nas legiões, juntamente com a Vitória, embora alguns legionários a título individual também o adorassem. No entanto nos 2 primeiros séculos do império a preferência dos soldados ia para Fortuna, a deusa da sorte ou qualquer outra divindade que lhes pudesse assegurar a sua preservação física. Mesmo os imperadores romanos que se identificavam com deuses preferiam faze-lo com Júpiter ou Hércules. Marte nunca foi assim muito popular. Nos séculos seguintes antes do advento do cristianismo, os cultos orientais (sobretudo de Mitra), fizeram numerosos fiéis. Depois do estabelecimento do cristianismo, o culto foi abandonado (mau grado a breve tentativa de restauração do paganismo por Juliano o Apóstata em meados do séc. IV) no exército e desapareceu. Durante a Idade Média e o renascimento, a literatura e escultura usariam a figura de Marte (assim como de outros deuses) como figura simbólica.
O planeta mais próximo do nosso seria baptizado com o nome do velho deus do Lácio, e Holst faria depois da primeira Guerra Mundial uma música extremamente bélica. A literatura e cinemas contemporâneos manteriam o nome vivo, ligado à ficção científica.
O planeta mais próximo do nosso seria baptizado com o nome do velho deus do Lácio, e Holst faria depois da primeira Guerra Mundial uma música extremamente bélica. A literatura e cinemas contemporâneos manteriam o nome vivo, ligado à ficção científica.
terça-feira, agosto 26, 2003
Saló
Para aqueles que achavam que isto ia ser um blog unicamente medieval, cá vai o desenjoo.
O regime fascista estava em 1943 numa situação periclitante: as derrotas do Eixo no norte de Africa (sobretudo a queda da Tunísia) faziam prever um breve desembarque aliado em Itália. Correndo o risco de ver o seu país transformado em campo de batalha, começaram as pressões para se mudar de campo enquanto era tempo, parecendo ignorar que os aliados pretendiam a capitulação incondicional, mesmo que não levassem os italianos muito a sério como adversário: prova disso é que muitos dos prisioneiro que sabiam falar inglês ou tinham estado nos E.U.A., eram depois incorporados no exército americano em tarefas de retaguarda.
Mussolini demasiado comprometido na aliança (e não vendo de qualquer maneira viabilidade nessa mudança consigo no poder) recusou. Formou-se então uma aliança entre alguns dignitários fascistas (nomeadamente Ciano, genro do Duce), membros do exército (com Badoglio à frente) e o rei. Numa reunião do grande conselho fascista (que sempre se limitara a funções decorativas e consultivas), Mussolini foi destituído. O rei mandou prende-lo e Badoglio tomou posse provisoriamente.
Começaram-se a entabular conversações com os aliados para o pronto desembarque destes, enquanto que se informava Hitler que o Eixo se mantinha, apenas sem Mussolini, e este aceitava. O problema é que os aliados nunca tinham previsto um evento desses e não estavam preparados para acudir a Itália por razões de logística; foram lançando cada vez mais condições (que os italianos aceitaram sem hesitações, uma vez que só se pretendiam livrar dos alemães) até exigiram a pronta capitulação. Foi aceite e tornada pública pelos aliados.
Quando os alemães souberam da traição do seu aliado, reagiram como os aliados não conseguiam: enviaram várias divisões acantonadas na fronteira no norte ou que estavam já em território italiano para ajudar e ocuparam quase todo o terreno. Entretanto um grupo de para-quedistas libertou Mussolini, embora por razões políticas, os louros fossem todos para os SS de Skorzeni.
O regime fascista estava em 1943 numa situação periclitante: as derrotas do Eixo no norte de Africa (sobretudo a queda da Tunísia) faziam prever um breve desembarque aliado em Itália. Correndo o risco de ver o seu país transformado em campo de batalha, começaram as pressões para se mudar de campo enquanto era tempo, parecendo ignorar que os aliados pretendiam a capitulação incondicional, mesmo que não levassem os italianos muito a sério como adversário: prova disso é que muitos dos prisioneiro que sabiam falar inglês ou tinham estado nos E.U.A., eram depois incorporados no exército americano em tarefas de retaguarda.
Mussolini demasiado comprometido na aliança (e não vendo de qualquer maneira viabilidade nessa mudança consigo no poder) recusou. Formou-se então uma aliança entre alguns dignitários fascistas (nomeadamente Ciano, genro do Duce), membros do exército (com Badoglio à frente) e o rei. Numa reunião do grande conselho fascista (que sempre se limitara a funções decorativas e consultivas), Mussolini foi destituído. O rei mandou prende-lo e Badoglio tomou posse provisoriamente.
Começaram-se a entabular conversações com os aliados para o pronto desembarque destes, enquanto que se informava Hitler que o Eixo se mantinha, apenas sem Mussolini, e este aceitava. O problema é que os aliados nunca tinham previsto um evento desses e não estavam preparados para acudir a Itália por razões de logística; foram lançando cada vez mais condições (que os italianos aceitaram sem hesitações, uma vez que só se pretendiam livrar dos alemães) até exigiram a pronta capitulação. Foi aceite e tornada pública pelos aliados.
Quando os alemães souberam da traição do seu aliado, reagiram como os aliados não conseguiam: enviaram várias divisões acantonadas na fronteira no norte ou que estavam já em território italiano para ajudar e ocuparam quase todo o terreno. Entretanto um grupo de para-quedistas libertou Mussolini, embora por razões políticas, os louros fossem todos para os SS de Skorzeni.
segunda-feira, agosto 25, 2003
Espancamentos
Do Imperador bizantino Leão VI (866-912) contava-se uma estória curiosa.
Ele apreciava saber o grau de honestidade dos seus funcionários e por isso andava incógnito na rua. Um dia estava a andar de noite quando foi preso por uma patrulha (o recolher era obrigatório a menos que se estivesse em missão) e subornou-os. Passado algum tempo encontrou outra patrulha e voltou a suborna-los. Encontrou uma terceira patrulha e tentou suborna-nos: deram-lhe uma sova e despojaram-no das roupas. De manhã identificou-se ao carcereiro, voltou ao palácio, mandou chamar as varias patrulhas, mandou recompensar os que o tinham espancado e castigar os que ele tinha subornado.
Ele apreciava saber o grau de honestidade dos seus funcionários e por isso andava incógnito na rua. Um dia estava a andar de noite quando foi preso por uma patrulha (o recolher era obrigatório a menos que se estivesse em missão) e subornou-os. Passado algum tempo encontrou outra patrulha e voltou a suborna-los. Encontrou uma terceira patrulha e tentou suborna-nos: deram-lhe uma sova e despojaram-no das roupas. De manhã identificou-se ao carcereiro, voltou ao palácio, mandou chamar as varias patrulhas, mandou recompensar os que o tinham espancado e castigar os que ele tinha subornado.
quinta-feira, agosto 21, 2003
As cruzadas-IV
A quarta cruzada... Pode-se-lhe verdadeiramente chamar cruzada?
O Papa Inocêncio III apelou a uma cruzada em 1198 para conquistar Jerusalém (o objectivo falhado da III cruzada), mas os preparativos começariam 2 anos depois. Vários grandes senhores trouxeram exércitos e estipularam um acordo com Veneza que transportaria essas tropas na sua frota em troca de uma quantia. O problema é que muitos dos senhores acabaram por não ir, e os que foram não tinham condições para pagar o valor estipulado (que era fixo). Foi criado um novo acordo então: os cruzados conquistariam Zara, uma cidade veneziana na Dalmácia que se revoltara em troca de um adiamento do pagamento. Entretanto chegaram notícias de Bizâncio. O Imperador Isaac II fora derrubado pelo seu irmão Alexius III e fora cegado. Ora o filho de Isac II, de nome Alexius IV conseguira fugir e apelara aos cruzados para o ajudarem: em troca de o colocarem no trono prometia-lhes dinheiro e os recursos do império para a conquista de Jerusalém. Ainda hoje os historiadores discutem se as coisas se passaram assim ou se foi uma justificação para o que se iria suceder. Os cruzados aceitaram imediatamente uma vez que isso parecia resolver os seus problemas. Partiram em 1202. O Papa considerou que se atacassem território cristão (nomeadamente Zara) ficariam excomungados. A cidade foi conquistada e depois de deixarem passar o Inverno atacaram Constantinopla. A cidade resistiu, mas o imperador Alexius III acabou por fugir com o tesouro da cidade. Com novos impostos a ser lançados para pagar as promessas feitas aos cruzados, rapidamente a população ficou à beira da revolta. Alexius V, um parente afastado fez um golpe matando Alexius IV e colocando novamente na prisão Isaac II que fora libertado pelos cruzados e governara com o filho. Os cruzados decidiram então conquistar em proveito próprio o império, nomear um imperador latino e dividir os territórios. Alexius V fugiu com algum tesouro e a cidade foi saqueada pelos latinos durante 3 dias. Estátuas, mosaicos, relíquias, riquezas acumuladas durante quase um milénio foram pilhadas ou destruídas durante os incêndios. A cidade sofreu um golpe tão terrível que nunca mais conseguiu se recompor, mesmo depois de voltar a ser grega em 1261. E assim terminou a IV cruzada, pois ninguém pensou mais em dirigir-se para Jerusalém: a maioria regressou com o que roubara, alguns ficaram com feudos no oriente.
O Papa Honório III pregaria uma nova cruzada que arrancaria em 1217 (a V). Decidiu-se que para se conquistar Jerusalém era necessário conquistar o Egipto primeiro, uma vez que este controlava esse território. Desembarcados em Acre, decidiram atacar Damietta, cidade que servia de acesso ao Cairo, a capital. Depois de conquistar uma pequena fortaleza de acesso aguardaram reforços e meteram-se a caminho. Depois de alguns combates, e quando tudo parecia perdido, uma série de crises na liderança egípcia, permitiam os cruzados ocupar o campo inimigo. O sultão acabou por oferecer o reino de Jerusalém e uma enorme quantia se os cristãos retirassem; o cardeal Pelágio que se tornara num dos chefes da expedição acabou por convencer os restantes a recusar. Começaram a cercar Damietta e depois de algumas batalhas sofreram uma derrota. O sultão renovou a proposta, mas foi novamente recusada. Depois de um longo cerco que durou de Fevereiro a novembro a cidade caiu. Os conflitos entre os cruzados agudizaram-se e perdeu-se tanto tempo que os egípcios recuperaram forças. Reforços até 1221 chegaram aos cristãos. Lançaram-se numa ofensiva, mas os muçulmanos foram retirando e levando os cruzados a uma armadilha; sem comida e cercados acabaram por ter de chegar a um acordo: retiravam do Egipto e tinham as vidas salvas.
A VI cruzada foi protagonizada pelo Imperador Frederico II. Partiu com um exército que foi diminuindo com as deserções, e uma semi-hostilidade das forças cristãs locais devido à sua excomunhão pelo Papa. Com negociações conseguiu que Jerusalém e outras cidades fossem entregues, embora fosse muito criticado por não ter combatido. Algum tempo depois de se ir embora, a cidade seria novamente perdida.
Finalmente a VII cruzada foi novamente obra de um só soberano, Luís IX de França (ou S. Luís como foi recordado), em 1249.
Desembarcou directamente no Egipto e depois de alguns combates, conquistaram Damietta. Novamente o sultão ofereceu Jerusalém e novamente foi recusado. Em Mansurá, depois de quase terem vencido, os cruzados são derrotados pela imprudência do irmão do rei, Roberto de Artois. Depois de uma retirada desastrosa, o exército puramente rendeu-se. Só a resistência da rainha francesa em Damietta, permitiu que se conseguisse negociar com os egípcios. Luís ficou mais algum tempo e conseguiu salvar o território de Outremer (indirectamente, as invasões mongóis deram o seu contributo), e décadas mais tarde preparou uma nova cruzada, mas morrendo na expedição.
Deste modo terminavam as cruzadas no oriente. Alguns grupos ainda partiram para, mas nunca mais se gerou entusiasmo nem foram preparadas grandes expedições. Rapidamente os poucos territórios que restavam seriam reconquistados pelos muçulmanos.
O Papa Inocêncio III apelou a uma cruzada em 1198 para conquistar Jerusalém (o objectivo falhado da III cruzada), mas os preparativos começariam 2 anos depois. Vários grandes senhores trouxeram exércitos e estipularam um acordo com Veneza que transportaria essas tropas na sua frota em troca de uma quantia. O problema é que muitos dos senhores acabaram por não ir, e os que foram não tinham condições para pagar o valor estipulado (que era fixo). Foi criado um novo acordo então: os cruzados conquistariam Zara, uma cidade veneziana na Dalmácia que se revoltara em troca de um adiamento do pagamento. Entretanto chegaram notícias de Bizâncio. O Imperador Isaac II fora derrubado pelo seu irmão Alexius III e fora cegado. Ora o filho de Isac II, de nome Alexius IV conseguira fugir e apelara aos cruzados para o ajudarem: em troca de o colocarem no trono prometia-lhes dinheiro e os recursos do império para a conquista de Jerusalém. Ainda hoje os historiadores discutem se as coisas se passaram assim ou se foi uma justificação para o que se iria suceder. Os cruzados aceitaram imediatamente uma vez que isso parecia resolver os seus problemas. Partiram em 1202. O Papa considerou que se atacassem território cristão (nomeadamente Zara) ficariam excomungados. A cidade foi conquistada e depois de deixarem passar o Inverno atacaram Constantinopla. A cidade resistiu, mas o imperador Alexius III acabou por fugir com o tesouro da cidade. Com novos impostos a ser lançados para pagar as promessas feitas aos cruzados, rapidamente a população ficou à beira da revolta. Alexius V, um parente afastado fez um golpe matando Alexius IV e colocando novamente na prisão Isaac II que fora libertado pelos cruzados e governara com o filho. Os cruzados decidiram então conquistar em proveito próprio o império, nomear um imperador latino e dividir os territórios. Alexius V fugiu com algum tesouro e a cidade foi saqueada pelos latinos durante 3 dias. Estátuas, mosaicos, relíquias, riquezas acumuladas durante quase um milénio foram pilhadas ou destruídas durante os incêndios. A cidade sofreu um golpe tão terrível que nunca mais conseguiu se recompor, mesmo depois de voltar a ser grega em 1261. E assim terminou a IV cruzada, pois ninguém pensou mais em dirigir-se para Jerusalém: a maioria regressou com o que roubara, alguns ficaram com feudos no oriente.
O Papa Honório III pregaria uma nova cruzada que arrancaria em 1217 (a V). Decidiu-se que para se conquistar Jerusalém era necessário conquistar o Egipto primeiro, uma vez que este controlava esse território. Desembarcados em Acre, decidiram atacar Damietta, cidade que servia de acesso ao Cairo, a capital. Depois de conquistar uma pequena fortaleza de acesso aguardaram reforços e meteram-se a caminho. Depois de alguns combates, e quando tudo parecia perdido, uma série de crises na liderança egípcia, permitiam os cruzados ocupar o campo inimigo. O sultão acabou por oferecer o reino de Jerusalém e uma enorme quantia se os cristãos retirassem; o cardeal Pelágio que se tornara num dos chefes da expedição acabou por convencer os restantes a recusar. Começaram a cercar Damietta e depois de algumas batalhas sofreram uma derrota. O sultão renovou a proposta, mas foi novamente recusada. Depois de um longo cerco que durou de Fevereiro a novembro a cidade caiu. Os conflitos entre os cruzados agudizaram-se e perdeu-se tanto tempo que os egípcios recuperaram forças. Reforços até 1221 chegaram aos cristãos. Lançaram-se numa ofensiva, mas os muçulmanos foram retirando e levando os cruzados a uma armadilha; sem comida e cercados acabaram por ter de chegar a um acordo: retiravam do Egipto e tinham as vidas salvas.
A VI cruzada foi protagonizada pelo Imperador Frederico II. Partiu com um exército que foi diminuindo com as deserções, e uma semi-hostilidade das forças cristãs locais devido à sua excomunhão pelo Papa. Com negociações conseguiu que Jerusalém e outras cidades fossem entregues, embora fosse muito criticado por não ter combatido. Algum tempo depois de se ir embora, a cidade seria novamente perdida.
Finalmente a VII cruzada foi novamente obra de um só soberano, Luís IX de França (ou S. Luís como foi recordado), em 1249.
Desembarcou directamente no Egipto e depois de alguns combates, conquistaram Damietta. Novamente o sultão ofereceu Jerusalém e novamente foi recusado. Em Mansurá, depois de quase terem vencido, os cruzados são derrotados pela imprudência do irmão do rei, Roberto de Artois. Depois de uma retirada desastrosa, o exército puramente rendeu-se. Só a resistência da rainha francesa em Damietta, permitiu que se conseguisse negociar com os egípcios. Luís ficou mais algum tempo e conseguiu salvar o território de Outremer (indirectamente, as invasões mongóis deram o seu contributo), e décadas mais tarde preparou uma nova cruzada, mas morrendo na expedição.
Deste modo terminavam as cruzadas no oriente. Alguns grupos ainda partiram para, mas nunca mais se gerou entusiasmo nem foram preparadas grandes expedições. Rapidamente os poucos territórios que restavam seriam reconquistados pelos muçulmanos.
segunda-feira, agosto 18, 2003
As cruzadas-III
De qualquer modo, nos anos seguintes, com a euforia da vitória, mais voluntários seguiram para oriente. Os contingentes seguiam por nacionalidades, continuando pouco organizados. As motivações eram variáveis: se alguns pretendiam obter novos feudos, ou redimir-se das suas faltas, havia também aqueles que "apenas" pretendiam ganhar batalhas, cobrir-se de glória, bênçãos espirituais, e voltar para a sua terra.
Por volta do ano 1100, nova expedição parte. Chegados a Constantinopla levantam-se discussões com os bizantinos que estavam fartos de ter aqueles vizinhos incómodos que pilhavam a terra, portavam-se de uma forma muito mais brutal em guerra, e ficavam com o que conquistavam (para além das diferenças culturais e religiosas). Entretanto os turcos estavam a unificar-se para tentar fazer face a estas ameaça. Evitando combates directos até ao último momento contra a cavalaria pesada cristã, usaram tácticas de emboscadas. Em Mersivan, esmagaram um dos exércitos cristãos (o dos lombardos e francos) que fora abandonado pelos seus líderes e cavaleiros (que fugiram). Estes foram severamente criticados pela fuga, assim como Alexius imperador de Bizâncio por não ter dado apoio.
Outro grupo, o exército de Nivernais, também foi destruído de forma similar (com fuga de líderes incluído). A expedição da Aquitania, portou-se melhor: ao menos os cavaleiros ficaram a combater e morrer juntamente com o povo. Os poucos que conseguiram, fugiram para Constantinopla. Três exércitos aniquilados em dois meses, enquanto que o pequeno exército de Jerusalém (com o membros da 1 cruzada) derrotava um exército egípcio.
Por alguns anos, não foram pregadas mais cruzadas, e os territórios cristãos no oriente tiveram de se aguentar por conta própria.
Em 1145 é pregada uma nova cruzada por Eugénio III. Desta vez foram reis que responderam ao apelo: Luís VII de França, Conrado da Alemanha, para nomear os mais importantes. Curiosamente, os contingentes flamengos e ingleses acabaram por conquistar Lisboa e voltar para as suas terras na sua maioria, uma vez que eram concedidas indulgências para quem combatia na Península Ibérica.
O exército de Conrado acabou esmagado pelos turcos num momento de repouso. O que sobrou, juntou-se aos franceses e com o apoio dos templários. Com algumas dificuldades de transporte, mais uma vez uma parte do exército teve de ser abandonado para trás (sobretudo os plebeus a pé), e estes tiveram de abrir caminho contra os turcos.
Luís VII e Conrado em Jerusalém depois de algumas discussões acabaram por ser convencidos a atacar Damasco, mas ao fim de poucos dias tiveram retirar perante a ameaça de uma parte dos nobres faze-lo por conta própria. O resultado desta nova cruzada fora miserável (se exceptuarmos a conquista de Lisboa).
Nenhuma nova cruzada foi lançada até a um novo acontecimento: a conquista de Jerusalém pelos muçulmanos em 1187. Os cristãos enfrentavam um adversário decidido, Saladino.
A III cruzada começava. O imperador Frederico Barbaroxa partiu com um contingente alemão, mas o seu afogamento representou o fim prático desse núcleo. Os reis de França e Inglaterra, passaram o tempo todo a querelar-se, até que aquele se retirou. Se Ricardo coração de Leão conseguiu alguns actos notáveis (a conquista de Chipre, Acre, Jaffa e uma série de vitórias contra efectivos superiores) também não teve pejo em massacrar prisioneiros (incluindo mulheres e crianças). Com Saladino, teve um adversário à altura, combatendo e travando um subtil táctico. Em 1192 acabou-se por chegar a um acordo: os cristãos mantinham o que tinham conquistado e obtinham o direito de peregrinação a Jerusalém (que ficava em mãos muçulmanas).
Se esse objectivo principal falhara, alguns resultados tinham sido obtidos: Saladino vira a sua carreira de vitórias iniciais entrar num certo impasse e o território de Outremer (o nome que era dado aos reinos cruzados no oriente) sobrevivera.
Por volta do ano 1100, nova expedição parte. Chegados a Constantinopla levantam-se discussões com os bizantinos que estavam fartos de ter aqueles vizinhos incómodos que pilhavam a terra, portavam-se de uma forma muito mais brutal em guerra, e ficavam com o que conquistavam (para além das diferenças culturais e religiosas). Entretanto os turcos estavam a unificar-se para tentar fazer face a estas ameaça. Evitando combates directos até ao último momento contra a cavalaria pesada cristã, usaram tácticas de emboscadas. Em Mersivan, esmagaram um dos exércitos cristãos (o dos lombardos e francos) que fora abandonado pelos seus líderes e cavaleiros (que fugiram). Estes foram severamente criticados pela fuga, assim como Alexius imperador de Bizâncio por não ter dado apoio.
Outro grupo, o exército de Nivernais, também foi destruído de forma similar (com fuga de líderes incluído). A expedição da Aquitania, portou-se melhor: ao menos os cavaleiros ficaram a combater e morrer juntamente com o povo. Os poucos que conseguiram, fugiram para Constantinopla. Três exércitos aniquilados em dois meses, enquanto que o pequeno exército de Jerusalém (com o membros da 1 cruzada) derrotava um exército egípcio.
Por alguns anos, não foram pregadas mais cruzadas, e os territórios cristãos no oriente tiveram de se aguentar por conta própria.
Em 1145 é pregada uma nova cruzada por Eugénio III. Desta vez foram reis que responderam ao apelo: Luís VII de França, Conrado da Alemanha, para nomear os mais importantes. Curiosamente, os contingentes flamengos e ingleses acabaram por conquistar Lisboa e voltar para as suas terras na sua maioria, uma vez que eram concedidas indulgências para quem combatia na Península Ibérica.
O exército de Conrado acabou esmagado pelos turcos num momento de repouso. O que sobrou, juntou-se aos franceses e com o apoio dos templários. Com algumas dificuldades de transporte, mais uma vez uma parte do exército teve de ser abandonado para trás (sobretudo os plebeus a pé), e estes tiveram de abrir caminho contra os turcos.
Luís VII e Conrado em Jerusalém depois de algumas discussões acabaram por ser convencidos a atacar Damasco, mas ao fim de poucos dias tiveram retirar perante a ameaça de uma parte dos nobres faze-lo por conta própria. O resultado desta nova cruzada fora miserável (se exceptuarmos a conquista de Lisboa).
Nenhuma nova cruzada foi lançada até a um novo acontecimento: a conquista de Jerusalém pelos muçulmanos em 1187. Os cristãos enfrentavam um adversário decidido, Saladino.
A III cruzada começava. O imperador Frederico Barbaroxa partiu com um contingente alemão, mas o seu afogamento representou o fim prático desse núcleo. Os reis de França e Inglaterra, passaram o tempo todo a querelar-se, até que aquele se retirou. Se Ricardo coração de Leão conseguiu alguns actos notáveis (a conquista de Chipre, Acre, Jaffa e uma série de vitórias contra efectivos superiores) também não teve pejo em massacrar prisioneiros (incluindo mulheres e crianças). Com Saladino, teve um adversário à altura, combatendo e travando um subtil táctico. Em 1192 acabou-se por chegar a um acordo: os cristãos mantinham o que tinham conquistado e obtinham o direito de peregrinação a Jerusalém (que ficava em mãos muçulmanas).
Se esse objectivo principal falhara, alguns resultados tinham sido obtidos: Saladino vira a sua carreira de vitórias iniciais entrar num certo impasse e o território de Outremer (o nome que era dado aos reinos cruzados no oriente) sobrevivera.
quarta-feira, agosto 13, 2003
As cruzadas-II
Ao pregar e prometer a salvação a todos os que morressem em combate contra os pagãos (leia-se, muçulmanos) em 1095, o Papa Urbano II estava a criar um novo ciclo. É certo que a ideia não era totalmente nova: parece que já no séc. IX se declarara que os guerreiros mortos em combate contra os muçulmanos na Itália mereciam a salvação. Mas desta a salvação não era prometida numa situação excepcional. As várias versões que nos restam do seu apelo, mostram que Urbano relatou também os infortúnios dos cristãos do oriente, e sublinhou que se até então os cavaleiros do ocidente habitualmente combatiam entre si perturbando a paz, poderiam agora lutar contra os verdadeiros inimigos da fé, colocando-se ao serviço de uma boa causa. O apelo foi feito a todos sem distinção, pobres ou ricos.
E foi de facto o que sucedeu. Mas os ricos e pobres rapidamente formaram cruzadas separadas.
A dos pobres, sob o impulso de Pedro o eremita, mal equipada, mal alimentada, massacrou judeus pelo caminho, pilhou e destruiu; sendo mal recebidos e atacados, a maior parte morreu antes de chegar à Ásia; aí foram dizimados pelos turcos e só um reduzido número consegui juntar-se à cruzada dos cavaleiros.
A cruzada dos cavaleiros possuindo recursos, embora progredindo devagar, fez um acordo com o imperador de bizâncio de lhe devolver os territórios conquistados aos turcos. Liderada por grandes senhores, levava quer proprietários, quer filhos segundos da nobreza. Esse acordo seria desrespeitado, à medida que o mal-entendido entre as duas partes cresceria. Os bizantinos pretendiam um grupo de mercenários solidamente enquadrados de que se pagasse o soldo e obedecesse às ordens e não aquelas turbas indisciplinadas; os cruzados não estavam dispostos depois de tantos sacrifícios entregar o que obtinham. Antioquia, a 1ª cidade conquistada depois de um longo cerco e um saque terrível (1098), foi guardada por Bohemundo, o chefe dos normandos. Godofredo de Bulhão conquistou Jerusalém em 1099, ficando só com o título de protector; à sua morte Balduíno seu irmão proclamou-se rei. Muitos dos combatentes retiraram-se uma vez conquistada Jerusalém (incluindo os grandes senhores), mas um núcleo ficou (cálculos chegam a falar de algumas centenas de cavaleiros e um milhar de homens a pé). As cidades principais (como Antioquia, Edessa) tornarem-se capitais de principados e reinos (embora Jerusalém fosse de certo modo o centro político e religioso), com outras marcas a protege-los. O sistema feudal foi transplantado para oriente com algumas alterações: muitas vezes em vez de receber feudos, os cavaleiros eram pagos com direitos ou rendas (modalidade que existia também na Europa aliás). As cidades mercantis italianas vão-se tornar fundamentais para a sobrevivência desses estados: permitiram a chegada de reforços e interceptar os movimentos das esquadras muçulmanos, tornando o mediterraneo novamente um mar navegável pelos ocidentais.
Mas rapidamente os muçulmanos iriam reagir.
E foi de facto o que sucedeu. Mas os ricos e pobres rapidamente formaram cruzadas separadas.
A dos pobres, sob o impulso de Pedro o eremita, mal equipada, mal alimentada, massacrou judeus pelo caminho, pilhou e destruiu; sendo mal recebidos e atacados, a maior parte morreu antes de chegar à Ásia; aí foram dizimados pelos turcos e só um reduzido número consegui juntar-se à cruzada dos cavaleiros.
A cruzada dos cavaleiros possuindo recursos, embora progredindo devagar, fez um acordo com o imperador de bizâncio de lhe devolver os territórios conquistados aos turcos. Liderada por grandes senhores, levava quer proprietários, quer filhos segundos da nobreza. Esse acordo seria desrespeitado, à medida que o mal-entendido entre as duas partes cresceria. Os bizantinos pretendiam um grupo de mercenários solidamente enquadrados de que se pagasse o soldo e obedecesse às ordens e não aquelas turbas indisciplinadas; os cruzados não estavam dispostos depois de tantos sacrifícios entregar o que obtinham. Antioquia, a 1ª cidade conquistada depois de um longo cerco e um saque terrível (1098), foi guardada por Bohemundo, o chefe dos normandos. Godofredo de Bulhão conquistou Jerusalém em 1099, ficando só com o título de protector; à sua morte Balduíno seu irmão proclamou-se rei. Muitos dos combatentes retiraram-se uma vez conquistada Jerusalém (incluindo os grandes senhores), mas um núcleo ficou (cálculos chegam a falar de algumas centenas de cavaleiros e um milhar de homens a pé). As cidades principais (como Antioquia, Edessa) tornarem-se capitais de principados e reinos (embora Jerusalém fosse de certo modo o centro político e religioso), com outras marcas a protege-los. O sistema feudal foi transplantado para oriente com algumas alterações: muitas vezes em vez de receber feudos, os cavaleiros eram pagos com direitos ou rendas (modalidade que existia também na Europa aliás). As cidades mercantis italianas vão-se tornar fundamentais para a sobrevivência desses estados: permitiram a chegada de reforços e interceptar os movimentos das esquadras muçulmanos, tornando o mediterraneo novamente um mar navegável pelos ocidentais.
Mas rapidamente os muçulmanos iriam reagir.
História ou estória(s)?-II
Em relação a este assunto, o Socioblogue decidiu aprofundá-lo e fez-nos chegar às mãos as suas reflexões. Vale a pena ver o post devido à sua qualidade científica.
terça-feira, agosto 12, 2003
Harold
Marc Bloch, num dos seus livros para mostrar a diferente mentalidade da Idade Média, descrevia um caso curioso. Um vikingue era conhecido por Haroldo das criancinhas pelos seus amigos. Tal alcunha tinha uma explicação simples: sempre que partia numa expedição, ao contrário dos seus amigos, não fazia mal às crianças que encontrava, não as violava ou matava. Isso tornava-o bizarro...
segunda-feira, agosto 11, 2003
As cruzadas-I
As cruzadas como fenómeno duraram séculos. Começaram pela tentativa de conquista de Jerusalém, mas não se limitaram a isso. Conquistaram-se reinos e feudos e fez-se o saque de um império cristão. Para terminar tudo em nada.
Depois de Maomé falecer (632), as vagas de exércitos árabes que tinham servido como exércitos mercenários lançam-se com um novo fervor à conquista dos seus antigos senhores, os bizantinos e persas sassânidas que passaram décadas a guerrear-se. Estes depois de algumas derrotas esmagadoras, demoram 30 anos a ser destruídos, mais graças à extensão do seu império do que à resistência: o último Xá morre em Cabul em 655. Os bizantinos resistem melhor: cedem uma parte da Síria, a Palestina, o Egipto, o norte de África, mas sobrevivem e mantém a sua capital. Num novo impulso, os exércitos conquistadores lançam-se então para a Índia, a Península Ibérica, o sul de Itália e França, as ilhas mediterrânicas. Tornado um império tolerante e brilhante do ponto de vista intelectual e artístico, o império muçulmano sofre de um gigantismo e um enfraquecer guerreiro e político que vai ver aos poucos as zonas mais longínquas tornarem-se independentes ou então serem recuperadas pelos seus inimigos, que guardavam na memória a época de conquista: bizâncios, francos, reinos neo-godos.
No século X, esse desagregar acentua-se em parte à influência de grupos de mercenários convertidos ao islamismo e que tentam criar reinos próprios. Os turcos seljúcidas (não confundir com os turcos otomanos antepassados dos criadores do actual estado da Turquia), procuraram impedir esse processo e conseguem unificar uma parte desse território. Acentuam a guerra contra os cristãos, conquistam Jerusalém e esmagam as forças bizantinas em Mantzikiert em 1071 conquistando assim o leste e centro da Anatólia. Estes, depois de um período de expansão no séc. X e XI estão em sérias dificuldades: vêm-se a braços com revoltas de nómadas no norte da fronteira, e a perda dos territórios italianos, conquistados pelos normandos. Do ponto de vista interno, a expansão dos grandes domínios em detrimento do pequeno campesinato, resultara numa diminuição dos recursos financeiros e humanos disponíveis ao estado. Como solução, o imperador Aléxis Commeno decide apelar ao ocidente para o envio de mercenários que o ajudem enfrentar a ameaça seljúcida.
Assim começavam as cruzadas.
Depois de Maomé falecer (632), as vagas de exércitos árabes que tinham servido como exércitos mercenários lançam-se com um novo fervor à conquista dos seus antigos senhores, os bizantinos e persas sassânidas que passaram décadas a guerrear-se. Estes depois de algumas derrotas esmagadoras, demoram 30 anos a ser destruídos, mais graças à extensão do seu império do que à resistência: o último Xá morre em Cabul em 655. Os bizantinos resistem melhor: cedem uma parte da Síria, a Palestina, o Egipto, o norte de África, mas sobrevivem e mantém a sua capital. Num novo impulso, os exércitos conquistadores lançam-se então para a Índia, a Península Ibérica, o sul de Itália e França, as ilhas mediterrânicas. Tornado um império tolerante e brilhante do ponto de vista intelectual e artístico, o império muçulmano sofre de um gigantismo e um enfraquecer guerreiro e político que vai ver aos poucos as zonas mais longínquas tornarem-se independentes ou então serem recuperadas pelos seus inimigos, que guardavam na memória a época de conquista: bizâncios, francos, reinos neo-godos.
No século X, esse desagregar acentua-se em parte à influência de grupos de mercenários convertidos ao islamismo e que tentam criar reinos próprios. Os turcos seljúcidas (não confundir com os turcos otomanos antepassados dos criadores do actual estado da Turquia), procuraram impedir esse processo e conseguem unificar uma parte desse território. Acentuam a guerra contra os cristãos, conquistam Jerusalém e esmagam as forças bizantinas em Mantzikiert em 1071 conquistando assim o leste e centro da Anatólia. Estes, depois de um período de expansão no séc. X e XI estão em sérias dificuldades: vêm-se a braços com revoltas de nómadas no norte da fronteira, e a perda dos territórios italianos, conquistados pelos normandos. Do ponto de vista interno, a expansão dos grandes domínios em detrimento do pequeno campesinato, resultara numa diminuição dos recursos financeiros e humanos disponíveis ao estado. Como solução, o imperador Aléxis Commeno decide apelar ao ocidente para o envio de mercenários que o ajudem enfrentar a ameaça seljúcida.
Assim começavam as cruzadas.
quinta-feira, agosto 07, 2003
Artur-III
Em finais do séc. XII Chretien de Troyes, um francês escreve contos sobre as aventuras do rei Artur, Lancelot, Guinivera, Gawain, Perseval. Sabe-se que Artur e os seus cavaleiros eram personagens populares na época e as estórias a partir da Bretanha de língua céltica e de Gales tinham-se espalhado por outros países. Mas Chretien apropriando-se de mitos conhecidos dá-lhe um cunho pessoal e sobretudo ficam guardados para a posterioridade. A partir daí, é um nunca mais terminar: o ciclo da vulgata francesa, o Parzival alemão, o Le mort d’Artur de sir Mallory só para citar os mais conhecidos. Alguns escrevem sobre todo o ciclo desde a morte de Jesus Cristo até à morte de Artur, criando uma narrativa de séculos, outros descrevem apenas episódios que acontecem a cavaleiros. São incorporados mitos exteriores sem ligação inicial (a estória de Tristão e Isolda, o mito do Graal, a távola redonda), novas personagens são criadas (Galahad). As obras são traduzidas para todas as línguas do ocidente cristão, reescritas, fundidas, influenciando muito a maneira de pensar (ou pelo menos o conceito do que deveria ser o ideal) dos cavaleiros. No séc. XVII dá-se uma certa diminuição do interesse, mas não muito, pois na ópera continua-se a pegar no tema. E o romantismo do séc. XIX com o seu interesse na idade média restaura o interesse (até escritores americanos como Mark Twaine o fazem). O séc. XX graças ao cinema e desenhos animados completa o trabalho, mantendo o interesse vivo e permitindo que um maior público tenha acesso; os grupos neo-pagãos também tentam apropriar-se da lenda devido ao seu lado mais místico (centrando-se em Morgana, Viaviane e Merlim por contraposição ao elemento cristão).
Os historiadores depois de terem feito uma critica feroz aos mitos arturianos chegando mesmo a negar a sua existência, limitam-se a uma prudente reserva
O que nos fica então para além de uma belas estórias? Não podemos afirmar com toda a certeza que Artur existiu, pois não existem relatos contemporâneos.
Os arqueólogos com as limitações que a ausência de registos implica, preferem falar dum período sub-romano para definir aquilo que é o período arturiano: séc. V e VI.
Artur era de facto um nome até relativamente vulgar na época. Sabe-se que um comandante romano de um destacamento sármata do séc. II na Bretanha tinha esse nome. Outras figuras antes e depois do “Artur” que nos interessa tinham esse nome. Uma divindade do norte também tinha um nome semelhante. Os nomes de origem romana ainda comuns no séc. V e VI nas crónicas vão progressivamente desaparecendo à medida que empurrados para gales, os celtas vão-se tornando galeses. Teria sido criado um herói a partir dos feitos de várias personagens que foram amalgamados pela memória colectiva? Ou de facto houve alguém que guerreou os saxões depois de Ambrosius e conseguiu depois adquirir um estatuto lendário? Ou nunca existiu ninguém assim e aos poucos surgiu uma lenda que foi crescendo. São várias as hipóteses mas nenhuma pode-se impor de momento.
Os historiadores depois de terem feito uma critica feroz aos mitos arturianos chegando mesmo a negar a sua existência, limitam-se a uma prudente reserva
O que nos fica então para além de uma belas estórias? Não podemos afirmar com toda a certeza que Artur existiu, pois não existem relatos contemporâneos.
Os arqueólogos com as limitações que a ausência de registos implica, preferem falar dum período sub-romano para definir aquilo que é o período arturiano: séc. V e VI.
Artur era de facto um nome até relativamente vulgar na época. Sabe-se que um comandante romano de um destacamento sármata do séc. II na Bretanha tinha esse nome. Outras figuras antes e depois do “Artur” que nos interessa tinham esse nome. Uma divindade do norte também tinha um nome semelhante. Os nomes de origem romana ainda comuns no séc. V e VI nas crónicas vão progressivamente desaparecendo à medida que empurrados para gales, os celtas vão-se tornando galeses. Teria sido criado um herói a partir dos feitos de várias personagens que foram amalgamados pela memória colectiva? Ou de facto houve alguém que guerreou os saxões depois de Ambrosius e conseguiu depois adquirir um estatuto lendário? Ou nunca existiu ninguém assim e aos poucos surgiu uma lenda que foi crescendo. São várias as hipóteses mas nenhuma pode-se impor de momento.
Artur-II
Depois da destruição dos reinos celtas, só existem novamente fontes com Beda o Venerável em princípios do séc.VIII. Infelizmente as informações que ele fornece para o período de Artur são copiadas de Gildas e os seus próprios dados começam só por volta de 600 com as missões católicas aos reinos saxões.
Em pleno século VIII temos informações relevantes vindas de um Bretão, Nennius. Finalmente o nome de Artur é referido (não é certo pela 1ª vez, mas sim relacionado com os factos correctos). É descrito como um comandante militar que teria vencido 12 batalhas contra os saxões sendo a mais gloriosa Badon Hill (sendo assim ignorado Ambrosius). O problema desta fonte, é que segundo os historiadores, Nennius tinha uma certa tendência a “preencher” as lacunas com factos inventados por ele. Isso não significa que ele tenha inventado tudo, mas que pode ter embelezado ou distorcido conforme as necessidades.
No século X surgem as “Annales Cambriae” uma cronologia (de origem galesa podemos agora dizer e não bretã) bastante sucinta. Para o ano 516 regista a vitória de Artur contra os saxões e em 537 regista a morte de Artur e Medrault (o futuro Mordred, embora não seja dito que eles fossem inimigos) numa batalha. Por curiosidade, na entrada de 573 é referido que Merlim enlouqueceu, não é dito que é um mágico, bardo ou o que quer que seja mas apenas que enlouqueceu. Artur continua a ser referido como um chefe militar mas não como um rei.
Ora acima foi dito que o nome de Artur já era referido antes de Nennius o descrever. De facto, nalgumas baladas galesas que remontam ao séc. VII, o nome de Artur como rei aventureiro no norte da Bretanha surge, mas nenhuma informação concreta nos fornece (para além de que enfrentava seres fantásticos e corrigia injustiças). Quanto muito ficamos a saber que o imaginário popular já se apoderara dele e retirando todo o contexto real lhe dera uma nova dimensão (como Mircea Elliade tão bem se apercebeu com outras figuras). Essas baladas teriam a mais bela concretização no Mabinogion.
As crónicas anglo-saxónicas sendo muito posteriores (começaram a ser compiladas no séc. IX e vão até ao séc. XII) descrevem todo o processo de destruição progressiva dos bretões (embora omitindo as suas próprias derrotas) mas não referem os nomes dos líderes bretões, o que é uma forte lacuna.
E assim chegamos a Geoffrey of Monmouth. É do séc. XII e o último autor que diz estar a fazer história. Argumentou que utilizou um livro vermelho em língua bretã de onde tirou todas as suas informações (não se pode negar ou aceitar mas era hábito da época justificar-se que se tinha uma fonte mais antiga). Ele vai acabar por dar alguns dos últimos acrescentos da futura lenda arturiana. Incorpora Uther Pendragon (pai de Artur) como irmão de Aurelius Ambrosius, refere a célebre passagem em que Merlim disfarça Uther com o aspecto do marido de Igraine, Mordred é já inimigo de Artur (mas apenas sobrinho e não filho incestuoso), Artur conquista o Império Romano, etc. Estamos de facto nos domínios da literatura.
Em pleno século VIII temos informações relevantes vindas de um Bretão, Nennius. Finalmente o nome de Artur é referido (não é certo pela 1ª vez, mas sim relacionado com os factos correctos). É descrito como um comandante militar que teria vencido 12 batalhas contra os saxões sendo a mais gloriosa Badon Hill (sendo assim ignorado Ambrosius). O problema desta fonte, é que segundo os historiadores, Nennius tinha uma certa tendência a “preencher” as lacunas com factos inventados por ele. Isso não significa que ele tenha inventado tudo, mas que pode ter embelezado ou distorcido conforme as necessidades.
No século X surgem as “Annales Cambriae” uma cronologia (de origem galesa podemos agora dizer e não bretã) bastante sucinta. Para o ano 516 regista a vitória de Artur contra os saxões e em 537 regista a morte de Artur e Medrault (o futuro Mordred, embora não seja dito que eles fossem inimigos) numa batalha. Por curiosidade, na entrada de 573 é referido que Merlim enlouqueceu, não é dito que é um mágico, bardo ou o que quer que seja mas apenas que enlouqueceu. Artur continua a ser referido como um chefe militar mas não como um rei.
Ora acima foi dito que o nome de Artur já era referido antes de Nennius o descrever. De facto, nalgumas baladas galesas que remontam ao séc. VII, o nome de Artur como rei aventureiro no norte da Bretanha surge, mas nenhuma informação concreta nos fornece (para além de que enfrentava seres fantásticos e corrigia injustiças). Quanto muito ficamos a saber que o imaginário popular já se apoderara dele e retirando todo o contexto real lhe dera uma nova dimensão (como Mircea Elliade tão bem se apercebeu com outras figuras). Essas baladas teriam a mais bela concretização no Mabinogion.
As crónicas anglo-saxónicas sendo muito posteriores (começaram a ser compiladas no séc. IX e vão até ao séc. XII) descrevem todo o processo de destruição progressiva dos bretões (embora omitindo as suas próprias derrotas) mas não referem os nomes dos líderes bretões, o que é uma forte lacuna.
E assim chegamos a Geoffrey of Monmouth. É do séc. XII e o último autor que diz estar a fazer história. Argumentou que utilizou um livro vermelho em língua bretã de onde tirou todas as suas informações (não se pode negar ou aceitar mas era hábito da época justificar-se que se tinha uma fonte mais antiga). Ele vai acabar por dar alguns dos últimos acrescentos da futura lenda arturiana. Incorpora Uther Pendragon (pai de Artur) como irmão de Aurelius Ambrosius, refere a célebre passagem em que Merlim disfarça Uther com o aspecto do marido de Igraine, Mordred é já inimigo de Artur (mas apenas sobrinho e não filho incestuoso), Artur conquista o Império Romano, etc. Estamos de facto nos domínios da literatura.
terça-feira, agosto 05, 2003
O rei Artur-I
O rei Artur é daquelas figuras de que embora se tenha escrito muito, de facto pouco se sabe. Para começar não se sabe se ele existiu de facto.
Em princípios do séc. V o imperador de Roma, Honório já farto das revoltas da província da Bretanha, mandou retirar as legiões e quadros administrativos dessa provincia; essas legiões deviam ser comitenses, tropas móveis (uma vez que se sabe que as tropas limitanei junto à muralha de Adriano continuaram a cumprir o seu dever mesmo sem um Império a quem servir).
A partir daí de facto pouco se sabem sendo a principal fonte um monge bretão do séc. VI, Gildas.
Os pictos do norte e os irlandeses do oeste começaram a lançar ataques cada vez mais atrevidos; em meados do séc. V, um rei Voltigern, pede ajuda a saxões do continente para combater essas ameaças, mas rapidamente os mercenários decidem passar a combater por conta própria para conquistar esse país tão fértil (pelo menos do seu ponto de vista), chamando mais tropas do continente.
A situação estava estacionária quando em finais do século V Ambrosius Aurelianus, um romano da bretanha (seja o que for que esse termo implique décadas depois da partida de Roma) consegue numa batalha esmagadora deter os saxões, a célebre Mons Badicus. Por algumas decénios a maré saxã parece ser detida (os achados arqueológicos demonstram-no), mas a incapacidade dos bretões em se manterem unidos permite
aos saxões resistirem, e depois lançarem-se novamente ao ataque. Na segunda metade do século VI dão-se uma série de batalhas que destroem primeiro os reinos celtas do sul, depois são os do norte, até os celtas ficarem reduzidos à cornualha, gales e mais uns enclaves. A Inglaterra ia começar.
Parca
Em princípios do séc. V o imperador de Roma, Honório já farto das revoltas da província da Bretanha, mandou retirar as legiões e quadros administrativos dessa provincia; essas legiões deviam ser comitenses, tropas móveis (uma vez que se sabe que as tropas limitanei junto à muralha de Adriano continuaram a cumprir o seu dever mesmo sem um Império a quem servir).
A partir daí de facto pouco se sabem sendo a principal fonte um monge bretão do séc. VI, Gildas.
Os pictos do norte e os irlandeses do oeste começaram a lançar ataques cada vez mais atrevidos; em meados do séc. V, um rei Voltigern, pede ajuda a saxões do continente para combater essas ameaças, mas rapidamente os mercenários decidem passar a combater por conta própria para conquistar esse país tão fértil (pelo menos do seu ponto de vista), chamando mais tropas do continente.
A situação estava estacionária quando em finais do século V Ambrosius Aurelianus, um romano da bretanha (seja o que for que esse termo implique décadas depois da partida de Roma) consegue numa batalha esmagadora deter os saxões, a célebre Mons Badicus. Por algumas decénios a maré saxã parece ser detida (os achados arqueológicos demonstram-no), mas a incapacidade dos bretões em se manterem unidos permite
aos saxões resistirem, e depois lançarem-se novamente ao ataque. Na segunda metade do século VI dão-se uma série de batalhas que destroem primeiro os reinos celtas do sul, depois são os do norte, até os celtas ficarem reduzidos à cornualha, gales e mais uns enclaves. A Inglaterra ia começar.
Parca
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